Sem época ou localização definidas, ‘O Hipnotizador’ seduz com arquitetura bem pensada


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Os diretores da série O Hipnotizador, Alex Gabassi e José Eduardo Belmonte, não fizeram nenhum segredo ao explicar que, durante a concepção do novo seriado da HBO, eles tiveram uma enorme preocupação com a estética do projeto. Diversas foram as entrevistas em que eles reafirmavam a intenção. Isso não significa que, para atingir objetivos tão elevados, a dupla precisou seguir alguma fórmula específica ou exata. Ao contrário. Embora a arquitetura da série remeta ao final do século 19 e comecinho do século 20, O Hipnotizador se passa já entre as décadas de 1920 e 1940, no intervalo entre as Grandes Guerras. Mas isso também não está muito acertado. Além disso, a cidade em que a história é contada não tem nome definido e muito menos uma língua oficial. No Hotel Las Violetas, onde grande parte das cenas acontecem, português e espanhol são falados – e compreendidos – com a maior naturalidade. E essa é apenas uma das várias antíteses da série que, na tela, se tornam super-harmônicas.

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O Hipnotizador é inspirada na HQ de mesmo nome do escritor argentino Pablo De Santis. A série, com direção brasileira, é protagonizada por outro argentino, o ator Leonardo Sbaraglia. Não pense que essa decisão foi premeditada. Inicialmente, a série seria em apenas uma língua, a portuguesa, mas foi com a entrada de Leonardo na atração que os diretores decidiram fazê-la bilíngue. É fácil entender o “sacrifício”. Leonardo Sbaraglia era um hipnotizador antes mesmo de estrear no programa. Considerado um dos nomes mais importantes do cinema e da televisão argentina – e, quiçá, de toda a América Latina -, ele é dessas figuras magnéticas; o interesse do espectador por ele é instantâneo. E da crítica também: Sbaraglia interpretou um motorista briguento no filme Relatos Selvagens, que concorreu ao Oscar em 2015, e foi indicado ao Emmy, em 2010, por viver, brilhantemente, um assassino na série Epitáfios. Um currículo cheio de pompa.

O protagonista misterioso

Na nova atração da HBO, Leo interpreta Arenas, um hipnotizador que, apesar de fazer as pessoas caírem no sono e descobrir seus segredos mais profundos, ele mesmo não consegue dormir. “O hipnotizador” acaba de chegar ao hotel Las Violetas e imediatamente desperta a curiosidade dos outros hóspedes. Arenas é um personagem “arenoso”, nos passa a impressão de deserto, de solidão, de quem anda por aí viajando; um andarilho, coberto de poeira – ele tem um visual um pouco sujo, ensebado.

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O hipnotizador é a atração principal de um teatro da cidade, que mais se parece uma arena de circo, já que as apresentações são feitas em forma de números independentes e não de peças teatrais. Vale dizer que, por vezes, essas cenas no teatro nos remetem ao filme O Ilusionista (2006) e ainda brincam com o universo fantástico.

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O antagonista sombrio

Darek – interpretado pelo excepcional Chico Diaz – é um psicanalista e hipnotizador que, ao que tudo indica, é o responsável pela insônia de Arenas, seu rival. Darek vem de “dark” e é um personagem mais obscuro do que Arenas. Os dois homens pertencem a extremidades opostas e que acabam dando um jogo de cena interessante.

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O uruguaio, a brasileira e o argentino

O hotel Las Violetas fica, provavelmente, na divisa entre Brasil, Argentina e Uruguai. É que ali passam personagens falantes dos três dialetos – todos os atores usam suas línguas maternas na série. O hotel é comandado por Salinero (no melhor estilo “Zé Bonitinho”), personagem do uruguaio César Troncoso. O ator já havia feito filmes e até novela no Brasil.

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A doce Anita, a camareira do estabelecimento, é interpretada pela brasileira Bianca Comparato. Na HQ, Anita era mais velha e robusta, mas Bianca, um dos maiores talentos jovens de nosso país, convenceu os diretores a trazerem uma versão bem diferente da personagem.

Por fim, o argentino Chino Darín dá vida ao mensageiro do hotel, Gregório. O próprio sobrenome entrega: Chino Darín é filho de Ricardo Darín, o ator mais famoso e celebrado da Argentina. Apesar da carreira recente aos 26 anos, Chino tem talento suficiente para ser reconhecido por méritos próprios.

Chino Darín e Bianca Comparato em cena

Chino Darín e Bianca Comparato em cena

Série não tem localização e época definidas

Segundo os idealizadores de O Hipnotizador, é impossível dizer, com precisão, o ano em que a história se passa, uma vez que ela traz elementos de períodos diferentes. No entanto, é sabido que a série acontece em algum momento do século 20, que foi marcado pelas importantes conquistas tecnológicas e as guerras sangrentas. Algo bastante conveniente, pois O Hipnotizador, mesmo sendo uma produção de época, narra, também, “um futuro que poderia ter acontecido”, apresentando um “quê” retrofuturista.

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A produção foi gravada em Montevidéu exatamente porque a capital uruguaia carrega, ao mesmo tempo, historicismo e modernismo, e não é uma cidade que teve sua arquitetura consideravelmente restaurada.

Além disso, a atmosfera que prevalece no seriado tem origem no expressionismo alemão, movimento que marcou o sentimento de horror e angústia no período que antecedeu a Primeira Guerra.

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// uma curiosidade: o filme considerado o marco inicial do cinema expressionista, O Gabinete do Dr. Caligari (1920), retrata justamente um hipnotizador //

Os prédios também contam histórias

Pela arquitetura presente no seriado, é possível ver influências do estilo neogótico, com construções do final do século 19 e começo do século 20. Por isso mesmo, a gente vê alguma semelhança arquitetônica entre O Hipnotizador e séries internacionais que se passam na Era Vitoriana, como Drácula, Penny Dreadful e Ripper Street.

A arquitetura neogótica se inspira na Idade Média e é conhecida pelas linhas irregulares

Também é notável o Art Nouveau, um movimento modernista que surgiu em seguida e que queria quebrar o sentimento historicista que prevalecia, até então, na arquitetura (como o próprio neogótico, que resgatava o gótico). Esse estilo tinha como intuito enaltecer os sentimentos e a natureza, através, por exemplo, do uso de curvas que imitavam as folhas de árvore. O Art Déco, que também aparece na série, teve seu auge na década de 1920 e tinha um estilo mais simples que o Art Nouveau, sendo bastante geometrizado, com linhas verticais e uma pegada futurista.

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A pensão que aparece no início da série é Art déco

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Art déco, art nouveau e neogótico (as torres ao fundo, à dir.) se misturam. Dirigíveis sobrevoam a cidade

Arenas que me desculpe, mas a arquitetura da série está mesmo dando um show a parte! Já para conferir o show principal – o do hipnotizador, é claro – a série vai ao ar nas noites de domingo, às 21h, pela HBO. A produção, de oito episódios e que é exibida simultaneamente em 23 países, tem tudo para ganhar uma segunda temporada. O primeiro episódio está disponível no canal da HBO no Youtube.

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  1. Fernando dos Santos - 19/09/2015

    Estou gostando da série embora em alguns episodios o ritmo seja meio irregular. O ponto forte sem duvida é essa atmosfera onírica que predomina durante a maior parte dos episodios, remetendo aos filmes de horror góticos.
    Eu acho que o nome Arenas também pode ser uma referência a Morfeus, o deus grego do sonho e filho de Hipnos, o deus do sono. Em algumas culturas Morfeus é conhecido como Sandman(homem da areia), figura mitologica que joga areia nos olhos das pessoas para que elas durmam. Tenho a impressão que o roteiro faz referências a essas figuras através do personagem Arenas que é hipnotizador.

  2. Gabriela Pagano - 19/09/2015

    Ahhh, com certeza! No universo das HQs mesmo, o Sandman do selo Vertigo é um clássico nesse aspecto! ^^

  3. Paullo Mendonça - 28/09/2015

    Gosto bastante do clima da séries, toda a arquitetura, também fotografia e atuação, mas confesso que o ritmo da série deixa um pouco a desejar. Estou acompanhando mas, não é algo que eu anseio como outras séries por exemplo: Magnifica 70.

  4. Gabriela Pagano - 28/09/2015

    Sim, sim. A série tem momentos bem sonolentos mesmo (o que é quase irônico!). Mas acho que esse clima dela envolve tanto, é tão bem feito, que acaba cativando de alguma maneira. E os personagens também cativam muito. Sou muito fã do elenco dessa série.

    Ah! Falei de Magnífica 70 (<3) na coluna do mês passado! 🙂

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