Review: Studio 60 on the Sunset Strip – Nevada Day – Parte 2


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Cena de Nevada Day - 2Série: Studio 60 on the Sunset Strip
Episódio: Nevada Day – Parte 2
Temporada:
Número do Episódio: 8
Data de Exibição nos EUA: 13/11/2007
Data de Exibição no Brasil: 12/9/2007
Emissora no Brasil: Warner

Na resenha anterior, preferi analisar mais detidamente a cena inicial do episodio 7, por acreditar que ela tinha um sentido especial. Parte dele foi trazer a baila, não somente o julgamento do público, mas, sobretudo, um tipo de julgamento que ele pode fazer a partir das manipulações que a mídia faz da opinião de artistas ou celebridades em relação a determinadas questões, muitas vezes confrontando-os com causas e grupos considerados minoritários. Trata-se de um uso muitas vezes indevido, abusivo e que acaba prejudicando a imagem do artista, ou mesmo de organizações ou interesses que eles representam em um dado momento.

Todo o episódio mostra muito claramente esse outro lado da mídia, onde o objeto de suas ações não é tanto o público, mas, ao contrário, as pessoas públicas e as próprias celebridades. Muitos desses conflitos acabam ainda nos tribunais e terminam em gordas indenizações.

O episódio oito se inicia com Matt fazendo uma retrospectiva de todo o imbróglio que envolveu Jeter e Simon para seu staff. Vemos ele resumindo a situação, esforçando-se para passar um tom casual e displicente, embora saibamos que no fundo está preocupado com o que pode acontecer. Há uma chance de Jeter e Simon não retornarem a tempo do show ir ao ar.

Matt:

Bom, tudo começou assim. Harriet nasceu e virou homofóbica.

Harriet:

Obrigado.

Matt:

Então Tom ofendeu alguns gays machões e um deles prestou queixa. Daí eles acharam um fantástico mandado por não comparecimento por uma multa em um lugar chamado Pahrump, Nevada. Tom pegou o casaco do Simon emprestado e o resto vocês já sabem. Eu tenho esperança de que eles voltarão para se arrumar, mas se não…Alex?

Alex:

Desculpa cara – Pahrump?

Matt:

Eu sei, é um nome engraçado, mas vamos deixar para lá.

Alex:

Feito.

Em meio aos comentários, Matt redistribui os papéis. Assim, Alex deverá se preparar para substituir Tom Jeter e Dylan deverá assumir o papel de Simon, caso ambos não retornem a tempo.

Novamente Harriet se vê às voltas com o problema causado por suas declarações, quando Jordan vem ao seu encontro para lhe pedir que se afaste por um tempo do grupo religioso que apóia e freqüenta por causa delas. Isso além de afetar sua imagem, afetaria também o show e a própria emissora. Mas ao mesmo tempo Jordan está com um problema semelhante. Seu ex-marido está publicando um livro no qual revela que ela não gosta de crianças, não quer ser mãe. Assistimos então uma conversa entre ela e Wilson White (Edward Asner), Presidente da NBS. Para este não interessa qual seja realmente a verdade e os sentimentos de Jordan sobre a questão da maternidade, mas ela tem de fazer parar os rumores a respeito, porque eles certamente afetarão os seus negócios.

Enquanto isso, em Pahrump, Danny e Jack estão tentando de tudo para soltarem Jeter. Mas o Juiz Bebe está irascível e aguarda a vinda de um promotor. A cena da reação explosiva de Jack, bem como as inúmeras provocações de Bebe sobre Simon refletem muito bem os limites que o poder econômico possui nos EUA. Não podem tudo e em algum momento eles têm de se submeter à Justiça e aos seus protocolos.

Nesse sentido, a solução do imbróglio não poderia ser mais emblemática desse poder que o Juiz possui nos EUA, cujo sistema legal, baseado na common law, permite que a lei seja criada e refinada pelos próprios juizes. Ou seja, uma decisão ou sentença depende sempre de decisões em processos anteriores e afeta a lei a ser aplicada em casos futuros (a lei comum está sempre mudando porque incorpora todos os precedentes). Nos EUA, diferentemente do Brasil, a lei escrita não possui nenhuma autoridade a priori e os juízes têm a autoridade e o dever de “fazer” a lei criando precedentes.

No caso de Jeter qual foi o precedente? Eis a questão. Jeter estava protegendo seu irmão mais novo, um soldado que estava partindo para a guerra, assumindo para si a culpa dele, pela ultrapassagem de um sinal. Pessoalmente não acho que Sorkin estivesse com isso elogiando ou aprovando a guerra em si, bem como as crenças do Juiz Bebe. As idiossincrasias de Bebe, sem dúvida, o remetem a um perfil conservador, arrogante, mas ao mesmo tempo de alguém que é autônomo, pensa e tem convicções próprias. Assim sendo, ele considerou que a atitude de Jeter para com o irmão, que estava indo cumprir uma missão para seu país, o redimia diante de toda a falta cometida. Bebe fez aquilo que um Juiz tem de fazer: julgar e julgar segundo suas convicções. Ou seja, ele quis mostrar a todos os presentes, que não estava libertando Jeter por causa dos poderes ou interesses que aquelas pessoas representavam, mas de algo que ele, juiz, acreditava estar acima de tudo. Ao mesmo tempo, isso não o impediu de usar a situação também para expressar seu desagrado pessoal contra aquelas pessoas, o mundo que elas representam, bem como o programa que fazem.

Penso que Sorkin está realmente de olho nessas duas coisas fundamentais que tanto definem e emprestam singularidade à democracia norte-americana: liberdade de expressão e o sistema legal que a sustenta. No que se refere à liberdade de expressão, os dois episódios mostraram claramente que essa liberdade de expressão pode estar sendo realmente ameaçada com toda a indústria de processos e escândalos. A esse respeito, o problema de Harriet traduz muito bem essa idéia corrente de que a democracia deve evitar o conflito e o debate público decorrente da divergência de idéias. Ao contrário, a sucessão de acusações e de processos intermináveis é que pode significar o cerceamento das liberdades, além de configurar-se numa forma de institucionalização da censura e consolidação do autoritarismo.

Resta então o ultimo ponto, talvez polêmico. Creio que Sorkin prestou uma homenagem sim à própria instituição do Juiz, na forma como ela existe nos EUA, com poderes discricionários suficientes para se impor diante de quaisquer grupos de interesse constituídos, de quaisquer natureza, seja em Pahrump ou Los Angeles. Com isso penso que a principal mensagem é que, independentemente de convicções pessoais mais ou menos conservadoras, eles, os juizes, com esse poder discricionário de que dispõem, são e continuam a ser os guardiães da democracia norte-americana.

Cena de Nevada Day - 2Quando ao final de tudo, Danny conta para Matt que em Pahrump, além de uma torta gostosa, existe um juiz que sabe das coisas, não me pareceu um elogio ao conteúdo das idéias de Bebe, mas um elogio a sua postura autônoma, independente, a sua forma de agir, segundo as suas próprias convicções no cumprimento de seu papel como tal. A esse respeito, nada melhor do que retomar a declaração de Harriet para entendermos o ponto de vista de Sorkin:

Disse que a Bíblia chama de pecado e também diz “não julgues e não serás julgado” e que isso era para pessoas mais espertas do que eu decidirem.

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  1. Laura Gomes - 13/10/2007

    Bom pessoal, qdo fiz a resenha não havia lido os ultimos comentários que fizeram à resenha do episodio sete. Por acaso li hoje e aí postei para o Paulo um email que vale a pena reproduzir aqui.
    ================================================
    Oi Paulo,
    Como tenho viajado muito a trabalho, não tenho tido tempo de ler os comentários às resenhas do Teleséries. Então somente hoje li o comentário que o Rodrigo fez a minha resenha do episodio sete. Ainda bem que eu ja havia feito a resenha justamente mostrando o quanto Sorkin é
    um liberal e o quanto ele aposta nas instituições liberais norte-americanas como antídoto para o seu próprio autoritarismo doméstico. Então para deixar esse argumento mais claro ainda, fiz agora
    uns acréscimos para enfatizar essa questão do liberalismo de Sorkin.
    Acho que a polêmica em torno disso é importante pq há um mal entendido generalizado no Brasil dos significados que os americanos dão ao termo liberalismo. Não são os mesmo que os nossos.
    Abs,
    Laura
    Segue então a parte que havia acrescentado ao final do meu texto:
    ===========================================
    Gostaria de finalizar a resenha dizendo que de forma alguma Sorkin é um crítico do liberalismo, no velho sentido que essa expressão possui para os norte-americanos. De fato, a resposta de Harriet é um testemunho disso. Ao contrário, para mim, a mensagem de Sorkin é extremamente liberal, no sentido de que para ele, no final das contas, são as instituições liberais norte-americanas e, somente elas que, paradoxalmente, poderão controlar e reverter o autoritarismo doméstico de seus grupos políticos radicais.

  2. bianca cavani - 13/10/2007

    Laura,
    Queria agradecer suas reviews, que leio com o mesmo prazer com que assisto ao Studio 60, e assistia a Roma. A sua cultura, articulação e bom gosto são extraordinários!Eu leio (e recomendo vivamente aos meus amigos)tudo que você escreve.
    Uma pergunta: qual a sua formação?

  3. Laura Gomes - 14/10/2007

    Oi Bianca,
    Antes de mais nada, obrigado pelas suas palavras. Sou formada em Ciências Sociais, com mestrado e doutorado em antropologia. Mas sempre gostei muito dos estudos culturais, especialmente de toda discussão sobre midia, especialmente televisão e internet. Com muita frequência uso a teledramaturgia para pensar e refletir a respeito de questões sociológicas.

  4. Emerson Gonçalves - 15/10/2007

    Excelentes comentários, Laura. E tua visão da sociedade americana (que o Sorkin traduz com felicidade) é muito boa.

    Acabei de postar um comentário sobre NCIS em outro post e nele eu cito o quanto gosto de Studio 60 e o quanto já lamento sua próxima perda. Ainda mais por ser roteirista e produtor/diretor de vídeos. Dia desses fiz um comentário que nunca tinha feito, e que surpreendeu minha mulher: “Puxa, como eu gostaria de trabalhar nessa redação!”

    :o)

    Já fiz, muitas e muitas vezes, felizmente, comentários invejosos na linha “Que roteiro! Queria eu ter escrito esse roteiro.” – e as melhores séries têm roteiros primorosos, sem dúvida, na base de tudo.

    Não é de admirar o Emmy pro John Goodman, por papel tão pequeno na duração e tão grande no significado do que é e como deve ser a democracia americana.

    Esse embate entre a vocação liberal de parte da sociedade americana e as posturas imperiais (e imperialistas) e fundamentalistas de outra parte, estão presentes em Boston Legal, E.R., estavam na fantástica Boston Public e até mesmo em Everwood e Gilmore Girls. Sem falar na clássica The West Wing, que faz muita falta, ainda mais agora que teríamos um presidente latino.

    Essa riqueza de situações e contradições torna cada série uma fonte de prazer e, por que não, também de conhecimento.

  5. Pedro Paulo - 15/10/2007

    Laura,a sua análise proporcionou uma visão muito mais rica àquela que eu tinha sobre a temática de Studio 60. Eu não havia percebido tantos detalhes, nem enxergado certas relações com a sociedade americana, que você tão bem apontou.
    Grato por isso.

  6. Rô Floripa - 15/10/2007

    E a Laura faz tudo isto com uma simplicidade de texto, que por si só é uma beleza.

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