02/08/2007, 09:00. Anderson Vidoni
Reviews
House

Série: House
Episódio: Adestrando House (House Training)
Temporada: 3ª
Número do Episódio: 66
Data de Exibição nos EUA: 24/4/2007
Data de Exibição no Brasil: 26/7/2007
Emissora no Brasil: Universal

Neste episódio se inicia o arco final da temporada, mas ele ainda está no inicio e é pouco perceptível. Foreman, que na temporada passada protagonizou dois dos melhores episódios da série, volta no fim desta para repetir o destaque e não decepciona. Mais uma vez Omar Epps mostra que é um grande ator (aliás, esse foi o episódio que ele submeteu ao Emmy, infelizmente ficando de fora). E o que ocorre nesse capítulo é o começo de algo maior que está por vir.

Eu senti um clima meio de fim de temporada que os episódios da série costumam ter. E o que no começo parecia um episódio comum, até exagerando no clima leve e tudo, se transforma brutalmente na metade final. Temos mais uma morte na série e agora o peso dela cai em cima do Foreman, que não recebe bem esse fardo. Isso tudo aliado ao drama da família do pupilo fez com que o ambiente fosse se tornando cada vez mais denso no decorrer da história.

Na parte mais leve que aconteceu no começo do episódio, o destaque vai para a obsessão do House com o Wilson e seus relacionamentos, os encontros e conversas com a ex-mulher dele. O triângulo também funcionou e, como sempre, os três estavam ótimos. E no fim o que me pareceu foi mais o doutor dando uma de amigo/irmão mais velho para cima da Cuddy, a protegendo de um mau relacionamento, do que um interesse amoroso.

O casal

Houve uma evolução no caso Cameron e Chase e ela foi significativa. Ele já se mostrou que está caidinho por ela, mas percebeu que a atitude que estava tendo só piorava as coisas. Agora decidiu que vai ficar calmo e jogar com ela, não quer um relacionamento, tranqüilo, ele aceita que não vão ficar juntos e resolveu que toda terça vai deixar ela ciente do que sente, seja com algum gesto ou mesmo falando isso. Calmo e tranqüilo, ele mexeu com a Cameron que ainda não sabe o que fazer. Ninguém melhor que o próprio para explicar melhor:

Olha, eu não estou pedindo nada de você. Não estou te seguindo até sua casa. Não tenho expectativas. Um gentil e educado lembrete uma vez por semana não é uma perseguição.

O Triângulo e a Ex (Parte leve do episódio)

A ex do Wilson aparece para deixar o cachorro deles com ele, pois ela se mudará para um apartamento. House vai atrás de seu amigo para saber o que acontece e chegando lá revela que convidou a Cuddy para uma peça, mas que ela disse estar ocupada. Ocupada para House, mas não para o Wilson. Tudo fica mais intrigante para o doutor quando seu amigo diz que tem outro encontro com a doutora, mas que é apenas como amigos.

House vai falar com a Cuddy, que diz estar precisando de um amigo e que o Wilson era a opção segura, o doutor fica todo alegre por ele não ser seguro e a cara da doutora na hora é ótima. Ele tenta a alertar, mas ela diz que não vai casar com ele nem nada, só irão numa galeria, mas ele diz:

Claro, você diz isso agora. Ele sempre casa com elas no final.

Enquanto os dois médicos estão no encontro, House finge estar interessado em um apartamento para conversar com a ex do Wilson, que virou corretora, sobre a vida deles. E como foi divertido ver ele enganando e manipulando ela. House descobre que ela estava numa situação parecida com a da Cuddy quando o conheceu, só precisando de um amigo e que encontrou o Wilson e ele agiu como tal e foi ela quem foi pra cima dele. Finalmente, descobre que se ela tivesse feito sexo com ele antes de se envolver emocionalmente ela não teria ficado com ele. E House recebe assustado mais uma informação sobre o seu amigo:

O sexo com o James era fantástico. Ninguém se esforça tanto pra dar a mulher o que ela quer. Tem seis bocas… O fogão profissional.

De posse da informação, o doutor vai falar com seu amigo, ele diz que estava tentando entender as atitudes dele para tentará evitar que a Cuddy se torne a 4° ex-sra. Wilson. A solução é:

Você precisa transar com a Cuddy.

A ex do Wilson que vai até a sala do doutor o confrontar sobre ele a ter usado e como sabemos, isso não deve acabar bem para ela. Primeiro a parte que não parece engraçada, mas mesmo assim foi a que mais ri durante o episódio e ri novamente quando transcrevi o diálogo. Ela pergunta:

Quer saber por que eu dei o nome pro cachorro de Hector?

Não. Vamos manter isso um mistério.

Chegamos ao nome do episódio, ela conta que o cachorro deveria ser House-training (domesticado), mas mijava no carpete toda manhã, importunava as visitas, era um House de quatro patas. Daí ela fala sobre um anagrama com “Hector faz no tapete” com “Dr. Gregory House”. Vamos dizer que depois disso e com o clima meio tenso que estava no ar, já que tínhamos adentrado na parte mais tensa do episódio, não ficou tão bonito para ela. Primeiro ao ela chorar que o Wilson pelo menos tinha a decência de se sentir culpado quando a machucava, o doutor manda:

Considerando que eu não machuquei você. Nem mesmo casei com você. Inteligentemente esperando evitar momentos como esse.

Ela continuou chorando e esbravejando para ele, o doutor chegou a refletir por um momento, deve ter pensado se falaria ou não o que falou, mas considerou que ela precisava ouvir. O que segue é um dos sermões mais fortes do House:

Primeiro, “Hector faz no tapete” é um péssimo anagrama. Quer um melhor para “Gregory House?” “Grande ego, desculpe”. Segundo, procure uma nova profissão. Nunca vai vender algo se deixar as pessoas controlarem a agenda. Terceiro, não lhe devo nada. Não sou o Wilson. Não vou comprar um apartamento só pra fazer você sentir-se melhor.”

Paciente da semana, Foreman e o começo do fim

Um jogo de cartas está ocorrendo na rua, daquelas em que tem se tem três cartas de tipos diferentes e que tem de adivinhar qual é a rainha. A garota é uma isca, ganha algumas para parecer ser fácil e atrair pessoas ingênuas atrás de dinheiro fácil. Mas em meio ao trambique, ela não consegue decidir qual carta escolher, o que há com ela? Finalmente desmaia, o cara foge e ela é levada ao hospital onde chama a atenção da turma do House. E o que ele fala a seguir mostra isso:

Perda do livre arbítrio. Eu gostei. Talvez consigamos São Tomaz de Aquino para uma consulta.

Ele não perde o pique e um pouco depois já pede para começarem os procedimentos de praxe, afinal:

O que é a vida sem a habilidade de tomar decisões estúpidas? Ela precisa do seu livre arbítrio. Descubram porque o cérebro dela congelou antes que ela não consiga decidir a próxima respiração.

Chega o pai do Foreman que está ali junto de sua esposa para comemorar o 60° aniversário dela. Eles vieram mais para ela ver o filho, que não volta para casa há oito anos. A mãe está mal e nem sempre se lembra de tudo e o pai quis trazê-la enquanto ela ainda sabe quem ele é.

Já na parte da visita na casa da paciente, eles acham um cachimbo de crack. O Foreman que já desconfiava disso, fica radiante com a situação. E ele toma a liderança do caso ao ter as melhores idéias. Entra em conflito com a paciente devido a sua atitude, ele a julga e ela o confronta. Chega num ponto onde eles discutem:

A única diferença entre você e eu, é que tomei algumas decisões ruins e você algumas boas.

Você toma decisões ruins todos os dias da sua vida. Pare de usar drogas e de se divertir. Volte para escola e consiga seu diploma.

Chegamos ao momento decisivo, onde foi tomada a decisão que matou a paciente. Foreman acha que é um tipo de câncer raro e sugere uma radiação de corpo inteiro, isso é um palpite e a atitude é ousada, tanto é que House gosta da indicação. O doutor permite e o manda pegar o consentimento. O que acontecerá, a radiação acabara com o sistema imunológico dela e se ela tiver o câncer, a ajudará.

O doutor vai pegar o consentimento com a garota, já que ela não vai com a cara do Foreman e ele acha isso interessante. Em meio aos efeitos colaterais do procedimento que ele vai dizendo, ela começa a ter outra das crises em que não consegue fazer escolhas. Para ter certeza, House faz algumas perguntas:

Prefere um lápis ou uma caneta? Quem é o melhor James Bond, Sean Connery ou Daniel Craig? Está vendo, isso nem é mesmo uma decisão.

Mas acontece que ela não tem câncer, o que ela possui é uma infecção que não foi percebida. E, sem o seu sistema imunológico, ela não tem salvação. Sua sentença de morte foi dada. E a partir daqui é que os clima muda de vez no episódio. Foreman faz questão de dar a noticia ele mesmo.

Wilson é procurado, todos sabem da sua facilidade em lidar com familiares e doentes nessas situações. Foreman tenta aprender o que pode para pelo menos não piorar a situação mais do que ele já fez. A utilização do que ele aprendeu com o Wilson é bem interessante, as reações dos dois são perfeitas para a situação e tocante para nós, até mesmo o soco na parede que consegue exprimir todo o sentimento de Foreman. As cenas que se seguem são excelentes e bem intercaladas. As lições de James são ao mesmo tempo frias e quentes, parecem extremamente calculadas e ainda assim vindas com a experiência de quem sempre se importa.

Agora chegamos num assunto já discutido nos comentários dos reviews, se House se importa com os pacientes ou se tudo é apenas um quebra cabeças seu. A garota irá morrer, mas ainda não sabem que infecção ela tem, isso faz com que o doutor vá até ela e faça todos os exames que acha necessário para descobrir, mesmo isso significando dor e desconforto para a paciente. Foreman vai até ele e o impede, a discussão é forte, mas o doutor cede e espera pela morte da paciente. O final da discussão:

Onde nós erramos, o que deixamos passar? Eu preciso saber.

Vai ter que esperar.

Não acho que isso prove alguma coisa, só que para o House como ela não tem mais salvação, não liga mais. Ele tentará descobrir o que há de errado para não acontecer novamente. Foreman dá o aviso, acabou, pode fazer o que quiser. Temos então a autópsia dela feita pelo doutor. Enquanto isso ao fundo temos o som de Matthew Ryan, “Follow the Leader”. Wilson chega e descobrimos junto com ele que foi o feche do sutiã dela que causou tudo, um simples arranhão que possibilitou a entrada da infecção. Estafilococo.

Ela morreu de uma simples infecção de estafilococo?

Isso e algumas decisões ruins.

Antes do fim, voltarei um pouco para os últimos momentos da paciente. Foreman fica junto dela até o fim, tenta conseguir seu perdão, se abre com ela. Se abre como nunca deve ter pensado que faria com ninguém, a garota percebe e mesmo sem dizer que o perdoava, dava para perceber que ela já se sentia bem melhor, já que também pode se abrir com ele. Uma parte do que o Foreman diz:

Quando fui para casa no meu último Natal na faculdade, foi como se os quartos parecessem tão pequenos. Era sufocante. Mas quando eu estava de pé na varanda me despedindo, minha mãe me abraçou. Aquela foi a última vez que me senti em casa. Eu só coloquei uma distância entre você e eu, porque eu sei que não há nenhuma.

Fica com a paciente até o fim e toda a sua dor pedia somente e apenar uma coisa, a coisa que conseguia fazer ele se sentir em casa num lugar estranho: sua mãe. Mesmo percebendo que ela não lembrava dele, foi ali que ele encontrou algum conforto.

E para acabar com este longo review, a conversa final entre o doutor e seu pupilo. Conversa essa que é não menos que espetacular. House vai dizendo que se quer absolvição que procure um padre ou que dê esmolas e etc. Diz para ele fazer tudo de novo, só que melhor. Foreman não parece que se recuperou do baque, esse caso deve exercer uma forte influência nele. Nem mesmo as palavras de House conseguiram esboçar alguma reação nele.

Você vai fazer de novo. Para muitos médicos esse poderia ser o erro da vida. Mas nós não somos médicos comuns. Devemos ter salvo mais pacientes que o cara ali da esquina, mas alguns que ele salvaria fazendo o que todos os outros fazem, e nós iríamos perder.