Review: Glee – Theatricality

Data/Hora 31/05/2010, 14:52. Autor
Categorias Spoilers
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Glee - Theatricality

Série: Glee
Episódio: Theatricality
Temporada:
Número do Episódio: 20
Data de Exibição nos EUA: 25/5/2010

Teatralidade não é uma exclusividade do showbiz ou das estrelas. Todos nós, de uma maneira ou outra, externamos nossas narrativas pessoais e expomos para quem quiser ver. Não é preciso querer entreter ou sequer captar a atenção alheia, às vezes simplesmente queremos validação para um sentimento, às vezes colocar sua personalidade, verdadeira ou inventada, em plena exibição vira um mecanismo de defesa.

É claro que o nível de teatralidade de uma persona como Lady Gaga é totalmente além da vida real, mas ao contrário da Madonna, que adornou um episódio sem motivação, Gaga é a figura perfeita para ilustrar o tema, e este por sua vez casou perfeitamente com os grandes arcos dessa segunda parte da temporada.

Admito que eu sou bem mais fã dos treze primeiros episódios da série, porém os plotlines de Rachel e Kurt nessa segunda metade são os melhores que a série já ofereceu. E se esse motivo não fosse suficiente para eles serem os protagonistas absolutos de Theatricality, eu não acho que o assunto poderia ser explorado de outra maneira que através dos dois. Todo mundo em Glee é teatral, paródias absolutas de si mesmos. Essa é a razão de ser do show. Mas se pensarmos nos personagens como pessoas, ninguém se expõe mais do que Rachel e Kurt, e não coincidentemente, eles são as duas pessoas mais vulneráveis da série.

O ponto positivo de Theatricality, contudo, é que ele funciona exatamente como na explicação de Shelby Corcoran. Não é uma explosão nuclear, é mais como uma tempestade calma. E apesar de eu ter minhas questões com uma coisa ou outra, eu amei o conjunto da obra.

Ainda não foi anunciado se Idina Menzel retorna ou não à série no próximo ano, mas para mim seria um grande desapontamento se ela não voltasse. E se levarmos em conta Theatricality, isso me parece uma possibilidade.

Um das questões que eu tenho com Glee entra aqui: às vezes o Murphy podia deixar um pouco de lado essa coisa episódica e levar em conta que certos assuntos não deveriam ser encerrados em cinco minutos. E se contarmos exatamente o tempo que levou entre Rachel descobrindo a diretora do Vocal Adrenaline como sua mãe e as duas enterrando o assunto, não foi muito mais que isso.

E é triste, porque a trama tinha tudo para ser tão complexa e rica. Os roteiristas podiam muito bem fazer isso. Só o fato de eles terem desviado completamente da armadilha que seria o clichê da Rachel mudando de time, ou da Shelby usando a filha para levar vantagem na competição, já prova que eles são sensíveis o suficiente para merecerem a minha confiança.

Então eu realmente não vi razão para o fechamento tão rápido e a tentativa de criar um subplot sobre a falta de conexão entre mãe e filha, que deveria segurar essa resolução, acabou totalmente sabotada pela química incrível que Lea Michele e Idina Menzel tinham.

Por um lado, eu entendo perfeitamente o que a estória está tentando nos dizer. Shelby queria algo para preencher o vazio deixado pelo seu fracasso em se tornar uma estrela, mas Rachel não pode preencher esse vazio simplesmente porque a garota é sua própria pessoa, com sua própria vida. Qualquer coisa que Rachel possa dar a Shelby jamais será o amor incondicional com o qual esta fantasiou, e Shelby nunca será aquilo que Rachel construiu em seus sonhos tampouco.

Glee - Theatricality

Porém, eu discordo totalmente quando Corcoran argumenta que o problema é que Rachel já é uma adulta e que não precisa dela. Em primeiro lugar, Rachel está longe de ser adulta. Ela é uma adolescente ainda bastante imatura, como tem direito de ser, e vulnerável, e por isso mesmo jogar no colo dela a revelação sobre o laço das duas e abandoná-la para lidar com aquilo um segundo depois é exatamente o tipo de coisa que Shelby não deveria fazer.

Em segundo lugar, talvez Rachel não necessite de uma mãe que a crie mais, contudo é inegável que se tem algo para o qual sempre haverá espaço na vida dela é uma pessoa. Qualquer pessoa. Qualquer um que simplesmente seja bom com ela, e a ouça um pouquinho. Ela é de longe a pessoa mais solitária desse show, e o capacho honorário até de pessoas não exatamente mal intencionadas como Jesse (ausente sem explicação por causa da troca de episódios que a Fox fez).

Então eu estou ao mesmo tempo um pouquinho frustrada que nós não pudemos simplesmente ver as duas encararem a realidade das coisas e tentar reajustar o caminho, e um pouquinho esperançosa de que ainda possamos testemunhar algo nesse sentido.

Quanto ao dueto das duas, acho que foi o meu preferido desde a estréia da série. Eu vi em muitos sites americanos vários comentários reclamando de quanto a música “Poker Face” é totalmente inapropriada para uma mãe cantar com uma filha. E eu não discordo, o subtexto sexual da música a torna um tanto quanto inadequada. Mas não é esse o ponto? Inadequação? O quão desconectada de seu papel materno a Shelby tem de estar?

Eu só sei que no número musical mais que nunca Menzel e Michele conseguem afundar qualquer coisa ali que tenha que parecer errada. A maneira como elas cantam uma para outra, como brincam e ficam fascinadas e emocionadas simplesmente irradia uma adoração que me faz querer tanto continuar assistindo às duas interagindo que eu quase chorei quando Shelby de fato vai embora.

Além disso, a música até que tem algumas partes bem pungentes: “Ela não precisa amar ninguém” é obviamente sobre a falsa auto-suficiência de Shelby, “Pegue a sua grana antes que eu troque as suas fichas” pode ser lida como Rachel pedindo a Shelby para tirar seu time de campo antes que ela tenha tempo para aceitá-la como mãe, porque então elas não poderá simplesmente ir embora e “Não vou te dizer que eu te amo, te abraçar ou te beijar, pois estou blefando” é obviamente a passagem mais importante e mais transparente. Até mesmo “Sorte e intuição, jogue as cartas de espadas para começar. E quando ele for fisgado, eu conquisto o coração dele” se trocado o gênero (e ignorado o óbvio contexto sexual) é uma ótima metalinguagem para aquela dança entre as duas, que basicamente consiste em uma fisgando a outra com seu talento musical e secretamente esperando que isso seja suficiente para entrar no coração da outra.

Mas a minha decepção maior foi com a trama de Kurt. O que é engraçado e complicado, porque eu realmente adorei essa trama desde o começo, em Home, mas eu me senti meio tapeada que a complexidade da situação que Murphy criou tenha sido enterrada debaixo de uma lição de moral.

Eu estava realmente engajada na situação explosiva entre Finn e Kurt até aquele momento em que Burt intervém. A partir daí, foi como se a estória caminhasse em cima de dois pesos, duas medidas. Primeiro, porque por mais que eu adore o Burt e a maneira como o relacionamento dele com o filho vem sendo construído, para mim seria mais recompensador ver o Finn tomar consciência sozinho da gravidade da ofensa dele contra o Kurt.

Fica a impressão de que assim como com tantos outros garotos dessa idade (e homens mais velhos, e meninas e mulheres também), o pequeno surto de Finn é menos sobre Kurt, sobre o outro, e muito mais sobre si mesmo. Sobre todas as perguntas a respeito de quem ele é, e do que ele é, e o medo colossal das respostas que ele pode obter caso se permita perguntar. É o tipo de medo que às vezes acaba virando intolerância e ódio, e resulta em comportamentos assustadores. Finn não quer, pelo menos até aquele finalzinho, que eu não engoli, ser uma aberração. Ele só quer se misturar e talvez ter sorte de ninguém nunca ver sua verdadeira personalidade, e ele nunca ter de lidar com o tipo de coisa com as quais Kurt e Rachel (e nesse episódio, também a Tina) têm que lidar, porque tudo a respeito deles é cem por cento explícito. Mesmo as coisas que farão com que eles sejam humilhados.

Porém eu não consigo achar que o comportamento inaceitável de Finn apague o fato de que o comportamento de Kurt não foi exatamente inocente. Eu sei que amor é amor, e muitas vezes vem com doses cavalares de ilusão, mas também pode acabar se tornando obsessão e Kurt meio que cruzou essa linha nesse episódio. Ele foi tão invasivo, e Burt e Carole estavam tão alienados, que eu acabei me sentindo mal pelo Finn, tendo que morar em um lugar onde ele se sentia intimidado, mesmo que sua acuação fosse motivada por uma homofobia não declarada.

Então eu acho que ao invés daquela cena supostamente heróica no final eu preferia uma conversa honesta entre os dois, onde ambos pudessem expor seus sentimentos e admitir que agiram mal. Finn foi cruel, mas Kurt o desrespeitou também ao explorar a solidão de seus pais para tentar encurralar Finn para dentro da sua fantasia.

Finn precisava aceitar Kurt (o que eu ainda acho que ele não está nem próximo de realizar completamente), mas o que me desapontou foi que Kurt não passou pelo mesmo processo de aprender a aceitar Finn. E Rachel e Shelby igualmente não chegaram a tentar se aceitar, antes de decidirem que estava tudo errado e seguirem em frente. Então para mim, foi um episódio sobre aceitação que basicamente trabalhou em cima da não aceitação. Isso não o tornou menos importante, pelo contrário, acho que foi injusto de uma maneira tão real que se tornou ainda mais tocante. Mas eu ficaria mais feliz se a trama Rachel/Shelby tivesse recebido um pouquinho mais de tempo para se desenvolver e a de Kurt/Finn não parecesse ter sido solucionada só pela necessidade de estabelecer uma mensagem positiva ao final do episódio. E vocês?

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  1. Aline - 31/05/2010

    Eu fiquei esperando Kurt se desculpar com Finn e fiquei só na espera. Ou ele realmente acreditava que estava certo e Finn era o único culpado? Sinto pena do Finn, com uma mãe daquela, não é surpresa nenhuma que ele seja uma confusão só.

    Agora eu tenho a leve impressão de que não gostarei do próximo episódio. Em Theatricality Jesse não deu as caras sem a menor explicação(temos que considerar que ele faz parte do ND, portanto deveria participar das apresentações), no próximo ele vai voltar como se nada tivesse acontecido e vai voltar pro VA??? Não sei pra que inverteram os episódios. Fox só complica mesmo!

  2. Roseana - 31/05/2010

    Ainda não foi anunciado se Idina Menzel retorna ou não à série no próximo ano, mas para mim seria um grande desapontamento se ela não voltasse.

    Quanto ao dueto das duas, acho que foi o meu preferido desde a estréia da série

    Eu só sei que no número musical mais que nunca Menzel e Michele conseguem afundar qualquer coisa ali que tenha que parecer errada. A maneira como elas cantam uma para outra, como brincam e ficam fascinadas e emocionadas simplesmente irradia uma adoração que me faz querer tanto continuar assistindo às duas interagindo que eu quase chorei quando Shelby de fato vai embora
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    LEA E IDINA SIMPLESMENTE ARRASARAMMMMM!!!! FIQUEI DISLUMBRADA COM POKER FACE!! O MELHOR DUETO SEM DÚVIDAS!

    QUANTO A FINN NÃO PRECISAVA APELAR TANTO!!

  3. Kelnner - 31/05/2010

    Thais, eu quero primeiro parabenizar pela excelente resenha… wowwwwww… fiquei encantado com o dissecar do episósio. Bem, com relação ao plot Rachel/Shelby, está claro que essa história ainda vai continuar… uma coisa que eu já vi que o Murphy costuma fazer é criar tramas que não são resolvidas completamente. Ele sempre deixa fantasmas, e eles sempre voltam. Eu acho que O Murphy quer na verdade apresentar o relacionamento da Rachel com os pais dela antes de colocar esse dilema com a Shelby na mesa. Seria extremamente injusto não mostrar a insegurança deles tb, com um certo receio em perder a filha… acredito que esse plot foi na verdade arquivado e ele volta na temporada que vem.

    Com relação ao Kurt/Finn, vc falou tudo… Eu não gostei to Kurt ter sido tratado como vítima total, uma vez que ele foi o gênio manipulador de toda aquela situação. Acredito que o plot tb não foi completamente resolvido e deve voltar a mesa… mas creio que seria muitíssimo mais interessante desenvolver isso e tornar mais complexo quando o namorado do Kurt der as caras (prometido pelo Murphy para soon). Talvez essa manga ainda não esteja desenvolvida completamente…

    Com relação a série em si, concordo com o fato de que a primeira parte foi muito mais fechada e coerente. Acredito que tenha sido falta de planejamento. Glee é uma série que demora demais para ser produzida, a segunda parte da temporada foi aprovada depois do sucesso estrondoso que fez, mas acredito que existia um certo ceticismo se ela seria aceita ou não pelo público. Deu no que deu. Mas, creio que esses erros não acontecerão na temporada que vem. Bem, sonhos de um fã assumido. 😉

  4. eugifran - 01/06/2010

    adoro glee…
    mas oq me parece é que, na 3 temporada, vamos ver storylines repetidas…
    pq em um episodio eles queimam tudo, sem dar tempo pra nada….
    adorei a mae da rahel, mas nao pude me importar mto om elas….
    o kurt foi otimo, mas se perdeu em um mar de cliche, pq na hora do grito com o kurt, eu ja sabia que finn ia se redimir mais ou menos daquele jeiyo….
    os 13 primeiros episodios de glee foram otimos….
    essas segunda leva, estão bons… nada mais que isso….
    e outra coisa, o kurt ta todo se ferrando na escola por ser gay certo? a Rachel tem 2 pais… nao seria melhor o kurt conversar com eles????
    isso nao sai da minha cabeça…. ainda mais os dois sendo do glee club….
    eu assistia glee sem piscar…
    hoje eu assisto lendo noticias na internet…. e quando o dialogo parece ser legal eu olho….

    PS: achei que o episodio foi bom, mas quem ganha o trofeu do ep é o puck cantanto “BETH” mto mto mto foda!

  5. Thiago FLS - 01/06/2010

    Meu irmão também adorou o dueto de Poker Face, mas concordo com quem achou inapropriada a escolha da música. Para mim foi impossível não me lembrar de Jenna e a mãe dela cantando “Do It One More Time” em 30 Rock, ou Michael e Maeby cantando “Afternoon Delight” no karaokê em Arrested Development.

    Queria entender também por que os censores obrigaram os produtores a cortar a palavra “bitch” da letra de “Bad Romance”, e ainda assim deixaram passar os versos mais sacanas de “Poker Face”, como o “cause I’m bluffin’ with my muffin”. Aliás, não sei como Idina Menzel conseguiu cantar essa parte sem corar.

  6. Bernardo SA - 02/06/2010

    Thais, tb agradeço pela excelente review – finalmente alguém que fala sobre o eps e as coisas desenvolvidas nele e ñ apenas “foi ruim pq as coisas se desenvolvem/resolvem muito rápido”; o problema existe sim, mas acho ótimo discutir o pq. /tirando o chapéu

    Thiago FLS, “bitch” é explícito, “bluffin’ with my muffin” é uma figura de linguagem (dá p/ entender do que se trata, mas ñ usa as ‘palavras erradas’). É como aquela música do Gabriel, O Pensador que fala de molhar o biscoito/afogar o ganso/afins.
    Isso é pq vc talvez ñ tenha visto que o jogo Band Hero censurou a palavra “whisky” (sim, a bebida) da letra de “American Pie” (e se ñ me engano mantiveram “damn” em “Bad Reputation”). 2 pesos e 2 medidas >_<

  7. edson - 04/06/2010

    Minha opniao. Droga de episodio. estragaram bad romance e poker face foi uma escolholha horrorosa.

  8. Maria Clara Lima - 04/06/2010

    Tb achei que a história do Finn foi além do que deveria. Poxa, não é a questão de ser preconceituoso ou não, limites são limites. Acho que o Kurt passou do dele.

    Não sei, Glee tá se perdendo dentro da fama. Há tempos não tinha nada sobre a Quin, eu já tinha até esquecido que ela ia dar o baby. E a… como é o nome dela mesmo? aquela dos olhos grandes que o Will tava apaixonado?

  9. Mica - 04/06/2010

    Edson, se vc achou esse episódio uma droga, nem queira ver o próximo..urgh!
    Mas adorei Poker Face. E como eu só fui conhecer a letra da música ao ver as duas cantando, a última coisa na qual pensei foi no contexto sexual…por mais estranho que isso possa parecer. Quero dizer, tinha tanta coisa ali no meio que cabia para o relacionamento das duas… E ficou brilhante na voz da Lea e da Idina.

  10. andre L. - 04/06/2010

    nao aguentei esse episodio, pulei varias vezes. nem da performance ‘bad romance’ (que prefiro ao vivo) eu gostei. o episodio seguinte foi salvo pela sue sylvester. nada mais. fraquissima a reta final de glee.

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