05/07/2008, 22:50. Simone Miletic
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8 Simple Rules, Chicago Hope, Deadwood, Friday Night Lights, Life, Melrose Place, The L Word

Defender que Life foi a Melhor Série de Drama de 2008 ou mesmo dizer que a série foi a maior injustiçada entre todas as ausência da lista dos finalistas ao Emmy não é fácil. Não é fácil porque Life ainda nem estreou do lado de cá do Equador. Não é fácil porque Life não foi unanimidade da crítica americana. Não é fácil porque ele não foi um estouro de audiência nos Estados Unidos. Não é fácil porque é mais um seriado policial.

Então porque me candidatei ao desafio? Porque eu fiquei completamente apaixonada pelo seriado. E porque paixão nem sempre tem razão e, mais que tudo, porque eu acho que o seriado realmente mereceria a indicação.

Life é estrelada por Damian Lewis, ator britânico que trabalhou em Hearts and Bones e Band of Brothers e que fez ponta no filme O Apanhador de Sonhos. Ele interpreta o detetive Charlie Crews, que volta a ativa na polícia após passar 12 anos na cadeia por um crime que não cometeu.

Cada episódio do seriado se divide entre: testemunhos de colegas, amigos e outros envolvidos na investigação que o levou a cadeia, como se estes dessem entrevistas após sua soltura; a vida atual de Crews como policial, investigando seus casos na companhia de Danny Reese e Crews investigando o real motivo que teria ocasionado sua prisão no passado.

O seriado segue a linha de ter uma trama que liga todos os episódios, a investigação particular de Crews, mas esta não chega a predominar nos episódios, com exceção do último episódio da primeira temporada. Alguns fãs ficaram decepcionados justamente por isso, esperando algo mais na linha de Lost e Heroes, e se cansaram da fórmula um caso policial por dia.

Como eu me classifico na turma de fãs de seriados policiais em geral, não me cansei dos casos diários e, ainda, ganhei de brinde uma trama bem amarrada quanto ao crime que levou Crews a prisão. A primeira temporada, inclusive, termina com Crews conseguindo importantes respostas quanto ao crime, mas criando um novo gancho, não menos interessante.

Mas, de longe, o que mais me apaixonou em Life foi seu personagem principal. Charlie Crews passou o pão que o diabo amassou na prisão (imagine um policial na cadeia), mas não se tornou uma pessoa amarga. Pelo contrário, a cada episódio ele mostra algo novo, aprendido não sei bem onde, sobre ficar em paz consigo mesmo. Em determinado ponto você entende que sua investigação pessoal não busca vingança, busca justiça.

Crews é um personagem complexo, que fala coisas sem nexo e, algumas vezes, fica ausente de si mesmo. Ele pode tanto ouvir uma vida “zen” em seu carro, como um rock pesado ou uma música eletrônica, mas cada coisa que ele faz tem um significado, você sabe perfeitamente que aquilo faz parte de sua alma.

A química entre Crews e Danny é evidente. A policial, interpretada pela ótima e linda Sarah Shahi, que viveu Carmem Morales em The L Word, acaba como parceira de Crews meio que como castigo, meio como espiã. Ela não sabe disso, inicialmente ela pensa que é somente castigo, motivado por seu envolvimento com drogas e álcool, do qual ela ainda está em recuperação.

Mas não demora a entender que a tenente Karen Davis, Robin Weigert, a Calamity Jane em Deadwood, quer motivos para tirar Crews da força policial. Primeiro por não entender o motivo dele querer isso de volta, conseguido como parte de seu acordo jurídico de soltura junto com milhões de dólares na conta, segundo porque ela pode ter ligação com o crime que o condenou.

Apesar de sua constante irritação com Crews, por suas frases desconexas ou de efeito, Danny passa, dia a dia, a gostar mais do parceiro, mesmo não admitindo, e aprende a contar com ele quando fica em perigo.

Os jogos de cena, entre Crews e os colegas de polícia, entre Crews e os bandidos que encontra pelo caminho e entre os ótimos coadjuvantes, dão charme a série. E você não consegue ficar sem torcer, seja para que Crews resolva o crime, seja para que ele encontre mais uma pista.

Além de tudo isso, se não for o bastante para você, Life ainda tem uma trilha sonora de primeira, imagens muito bem sacadas de Los Angeles, roteiros que fazem você ficar satisfeito com cada crime resolvido e a presença dos atores Adam Arkin (Chicago Hope e 8 Simple Rules) e Brooke Langton (Melrose Place e Friday Night Lights) como coadjuvantes.

E, para mim, o melhor seriado de um ano é isso: um conjunto de coisas muito boas. Ele pode não ter um episódio arrasador, mas o conjunto da obra ser arrasador. Prefiro me lembrar de uma temporada inteira em que desliguei minha TV satisfeita com o que vi.