Meditações sobre Wisteria Lane


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Desperate Housewives - You're Gonna Love Tomorrow

Edie:

So, Gaby, what the hell happened to you?

Gabrielle:

I… had two children.

Edie:

For breakfast?

Dizer que Desperate Housewives já foi mais relevante se tornou um clichê. E por isso, ano após ano, eu a assisto como assisto a 30 Rock. Assim como na premiadíssima e surreal série de Tina Fey, a piada pela piada é o que conta. Ao acompanhá-las, não busco arcos narrativos necessariamente coerentes ou um desenvolvimento conciso das personagens. O texto é muito bom, eficiente e diverte. E como uma boa comédia, a série de Marc Cherry nunca decepcionou nos seus cinco anos de existência.

Só que DH é uma dramédia. E no que se refere à parte dramática das donas de casa, depois das centenas de mortes e do excesso de acontecimentos trágicos na rua e nas vidas de Susan Meyer e Cia., o desenvolvimento das personagens ficou severamente comprometido. O telespectador mais exigente não consegue simplesmente apertar o botão ‘reset’ a cada início de temporada ou ignorar os severos danos psicológicos que resultariam de tais eventos catastróficos. O fato de a narrativa resgatar ou fazer citações destes eventos aqui e acolá não recupera a credibilidade da estória como um todo. Tudo bem, a série contém o vocábulo ‘Desperate’ em seu título, mas o limite de desgraça, bandidagem e ameaças de morte por metro quadrado foi ultrapassado há tempos em Wisteria Lane. E a reciclagem constante da fórmula também não contribui para o retorno do prestígio que a série ganhou em sua estreia.

Só que o tal do telespectador é um bicho muito fácil de ser manipulado. E se o time de produtores de qualquer série tiver o dom de conhecer, dissecar e brincar com os sentimentos universais do ser humano, então não importa quantos furos o seu programa tenha: o drama receberá compaixão, a mensagem será recebida e os personagens ganharão empatia. E Desperate Housewives sabe fazer isso muito bem. Quem não considera o episódio Bang! um sucesso absoluto naquilo a que se propõe?

Particularmente, o mistério da temporada presente a cada ano pouco me importa. Os conflitos humanos e a exploração do narcisismo e da egoísta rotina dessas mulheres são o que valem a pena. A briga entre Bree e Katherine acerca de quem faz a melhor torta de limão é mais excitante do que quem está escondendo algo ou querendo matar alguém. Por esse prisma, eu não credito o estrondoso sucesso da primeira temporada à resposta da pergunta “what did you do, Mary Alice?”. Credito ao retrato impiedoso e sem máscaras do ser humano, à crítica ácida da aspiração à vida suburbana capitalista baseada em relações de aparência e status, e a impossibilidade de se atingir o perfeccionismo que levaram Mary Alice a estourar os próprios miolos. Isso foi refrescante e inovador (de uma forma bem mórbida, é verdade).

Uma cena clássica do programa remete a Lynette, exausta de seu cotidiano e do desgaste com seus filhos, confrontando seu reflexo na janela da cozinha levar um revolver à cabeça e puxar o gatilho. Isso é Desperate Housewives pra mim. Susan passando molho de carne no corpo para receber lambidas do cachorro do vizinho e começar um papo, a impotência diante da falta de controle sobre tudo e todos de Bree e Katherine sublimada por suas atividades domésticas, o vazio existencial de Gabrille refletido em sua futilidade, e a luxúria de Edie resultante de sua solidão: isso é Desperate Housewives pra mim.

Desperate Housewives - Ah, But Underneath

Na tentativa de quebrar o repeteco, nesta atual e divertida quinta temporada o recurso Lost favoreceu o campo criativo da série, já que dezenas de storylines podem ser inseridas em flashbacks para o preenchimento dos significativos cinco anos das vidas das personagens. E os produtores acertaram na maior parte das escolhas. Enquanto Susan não vê uma trama decente há anos, a decadência de Gabrielle, as sempre instigantes crises familiares de Lynette e a parceria entre Bree e Katherine funcionam lindamente. E a Edie? Bem, muita gente nunca suportou a personagem e eu não consigo entender isso. Ao longo dos anos, ela continua sendo o maior trunfo cômico da série, recheada de ótimas tiradas (como a que abriu este texto). Ao lado de Eva Longoria, Nicollette Sheridan possui um excelente timing, e o fato de elas sempre terem sido as mais esnobadas do elenco perante as premiações também me foge da compreensão. Edie fará, sim, muita falta após sua divulgada saída ao final desta temporada.

O poder de Desperate Housewives jaz em seu grande potencial cômico e nas (manjadas, porém eficazes) lições do dia em voiceover de Mary Alice. Considerando que o humor negro constrangedor aqui apresentado e a própria essência da trama (os dramas e bobagens de mulheres quarentonas num subúrbio americano de classe média alta) ajudam a parcela de detratores do programa, a série ainda encontra força em seu competente texto ácido, nas boas atuações do elenco que sublimam um pouco o surrealismo do contexto e na boa exploração do lado fraco do ser humano. E isso ainda vale 45 minutos do meu tempo.

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  1. Abelardo - 15/03/2009

    eu ainda, depois de 5 temporadas… sou um grande fã da série. Acho q ela sabe mto bem se reinventar… E sempre fico ansioso pra ver o próximo episódio..

    GO Desperate Housewives…

    E sim… a Edie vai fazer mta falta à série.

  2. Maurício - 15/03/2009

    Os primeiros episódiso da temporada até que são satisfátorios… Bem, na verdade a temporada inteira é satisfatória, mas só isso “satisfatoria”.

    A grande verdade é que até a 3ª temporada o nivel era outro, após o mistério dos Hodge a série entra em um outro clima e se perde, ou perde o que mais me agradava nela, os conflitos entre as donas de casa. Já que elas são muitas e com a entrada da Dana Delany para o elenco, tudo fica ainda mais comprimido.

    Edie é uma ótima personagem, as tiradas dela sempre foram as melhores, ela é a única personagem que consegue combinar com a Susan e a fazer funcionar. Nicollette vai fazer falta, mas a série precisa de uma renovação (antes fosse a Dana) e lendo spoilers os episódio após sua saida, a série sofrerá a tal renovação, só espero que não seja um renovação igual ao salto de cinco anos, que só fez a série perder. Lynette ficou chata, Bree idem, Susan ficou ainda mais perdida e somente Eva Longoria saiu ganhando, mas até o episódio 9, porque após isso todas ficam na mesma. Histórias vazias e que só servem para divertir.

    Como muitos fãs dizem: “Em Wisteria Lane está faltando assassinos, ladrões, suicidas, pedofilos, incendiarios, esquizofrenicos, alcoolatras e principalmente donas de casa literalmente desesperadas…”

  3. douglas - 15/03/2009

    n me canso nunca de DH…q venham mtas outras temporadas!!!

  4. Mayara - 15/03/2009

    Ótimo texto.

    E concordo que dramaticamente a série não me prende mais. Os mistérios acabam sempre sendo ultrapassados pelas loucuras da personagens. Se eu ainda assisto a série, é porque as atrizes estão sempre prontas par da um show, não importa se a série perde ou não sua qualidade. Ninguém é capaz de me fazer rir tão alto e chorar tão facilmente como Marcia Cross e a sua endemoniada Bree, e nenhuma série tem uma atriz tão poderosa como Felicity Huffman(e o que ela faz com as suas plots que ficam cada vez mais desinteressantes é um absurdo). Isso sem contar com as outras que também são ótimas, Eva que é capaz de fazer sua Gaby dizer q fazer a coisas mais horríveis e ainda conseguir ser adorável e fácil de gostar. E Teri, que não importa o quão criança seja sua Susan, está sempre pronta pra fazer rir e Nicolette que vai fazer uma falta tremenda com a Edie. Isso sem contar Dana Delany que foi um acerto incrível da série.

    O que me deixa muito, mas MUITO triste em DH, é que eu assisto séries mais pelas interações do personagens, então a distância entre as personagens sempre me deixam decepcionada. Por exemplo lááá atrás da primeira temporada, Bree e Lynette eram grudadas, o mesmo com Susan e Gaby. Hoje em dia essas alianças já não existem mais, e apesar se elas ainda serem amigas, as cenas delas juntas só conversando e jogando poquer fazem muita falta. Hoje elas só se juntam pela plot da semana e as cenas em grupo são tão raras…

    Mesmo assim DH ainda tem um lugar especial entre minhas séries favoritas e o elenco me deixa sempre muito feliz.

    Obrigada por esse texto. Por muito tempo senti que o site não ligava muito pra essas malucas.

  5. Ângelo Romão - 15/03/2009

    Puxa, Maurício, já eu discordo sobre a Delany. Sua adição ao elenco foi um presente. A mulher é talentosíssima! E, se não me engano, o Marc Cherry chegou a oferecê-la o papel de Bree, mas ela recusou na epóca. Ele é tão fã que continuou insistindo ao longo dos anos até que ela cedeu.

    E chega de cadáveres e homicidas em Fairview! DH é imbatível quando se foca em dramas pequenos, nas futilidades cotidianas, e nos problemas familiares.

  6. Rafael - 15/03/2009

    Excelente texto, concordo com a maioria dos pontos abordados.

    Mayara disse: “Obrigada por esse texto. Por muito tempo senti que o site não ligava muito pra essas malucas.”

    Eu respondo: Mayara, o site não liga mesmo para DH. É muito raro ler algo sobre a série aqui (e mais raro ainda é ver referências elogiosas, como esta).

    Em tempo: Nicolette Sheridan foi indicada ao Golden Globe de melhor atriz coadjuvante (primeira temporada) e Eva Langoria ao GG de atriz (segunda temporada).

  7. Dalmo Bandeira - 15/03/2009

    Ótimo texto. DH ainda está ótima e se continuar assim, que venham mais e mais temporadas.

    Para mim, a melhor adição ao elenco foi Kyle MacLachlan na 3ª temporada (a melhor temporada, por acaso).

  8. tio_john - 15/03/2009

    Adorei o texto.

    Pra mim, DH é a melhor série, e sempre será. As histórias, narrações, personagens, são tudo bem colocados.

    As 5 (ou 6?) mulheres são perfeitas, com grandes atuações.

    A 4ª temporada foi excelente. A 5ª teve uns 2 episódios que não me agradaram muito, mas mesmo assim, ao terminar de vê-los, senti a mesma coisa que sinto a cada episódio que termina de DH:

    “…eu amo essa série.”

  9. Ângelo Romão - 15/03/2009

    Rafael, você tem toda a razão sobre as indicações.

    É que aquela cena da Ellen DeGeneres, que estava apresentando o Emmy na época, fazendo graça com a Eva sobre o fato de só ela ter sido esnobada estava na minha cabeça durante a concepção desse texto.

    E quanto a Nicolette, eu realmente não fazia idéia de que ela havia sido indicada pela primeira temporada. Daí foi que me deu o estalo, já que ela estava na categoria de coadjuvante.

  10. Cartney - 15/03/2009

    exatamente pelo que vc falou nos 2 prim paragrafos e uparei de acompanhar na segunda temporada …

  11. Thomaz Jr. - 15/03/2009

    Eu desisti de DH nessa temporada.
    A série nao empolga mais. A personagem que mais me chamava a atenção era Lynete. Mas está sem graça nessa temporada. Achei que ela podia ter ficado viuva nesses 5 anos e viver encontros e tals. Mas aquele drama com o filho e a “Mrs Robson” é muito besta.
    Td em DH virou tão cliché que nem bebado eu consigo ver graça. A série tá de mal a pior. DH é proem uma critica ao estilo de vida americano (tipo Blza Americana) mas não é. DH é uma soap opere do primetime. Tem uma e outra cena divertida perdida na temporada, mas no geral o que temos é tramas idiotas, repetitivas e sem graça (mto sem graça).
    DH é uma ideia ótima (acho a premissa mto boa e original), mas na real se tornou uma série intragável.

  12. Diego Cardoso - 15/03/2009

    Tenho apenas dois comentários

    1º- Parabéns pelo texto! Apesar de não acompanhar a série desde a metade da segunda temporada, acho a presença dela ainda no ar um grande presente para o telespectador. Parei de assistir porque simplesmente não consegui manter o mesmo interesse que tinha pela série em sua primeira temporada. Algo nela me lembrava tremendamente Twin Peaks, e isso me fez assistir. Nos dias de hoje, assisto em média 1 ou 2 episódios por temporada e posso afirmar que é garantia de diversão!

    2ª- Finalmente a Dana Delany conseguiu largar de ser pé frio e conseguir permanecer em uma série sem que mesma fosse cancelada após meia temporada(Pasadena, Presidio Med, Kojak, Kidnapped…)! ehehehehe

  13. Gilberto Dutra - 15/03/2009

    Nunca entendi as críticas ácidas a essa série. Claro que nem todos os episódios são perfeitos, mas Desperate está sempre muito, muito acima da média das outras séries.

    Assistir um episódio é sempre um momento agradável e garantia de diversão.

  14. Marco - 15/03/2009

    Nunca entendi as críticas ácidas a essa série. Claro que nem todos os episódios são perfeitos, mas Desperate está sempre muito, muito acima da média das outras séries.

    Assistir um episódio é sempre um momento agradável e garantia de diversão. (2)

  15. Paulo Antunes - 15/03/2009

    Bom, ningúem mais pode acusar o TeleSéries de perseguir Desperate Housewives. Obrigado, Ângelo!

    E é difícil discordar dos teus argumentos, mas eu sempre dou um jeito!

    Concordo contigo que o que cativou os telespectadores na primeira temporada não foi o mistério do suicídio da Mary Alice ou das intenções do Mike Delfino e sim o humor da série. Mas parece que os produtores não se deram conta disto: porque seguiram repetindo a fórmula do “personagem com passado misterioso” por quatro outras temporadas. Eu entendo que é importante termos um arco costurando as temporadas da série, mas faltou inteligência aos produtores para criar tramas diferentes. Pra dar um exemplo – eu acho genial aquela trama do vizinho pedófilo, aquilo valia ouro. E o que eles fizeram? Encerraram esta história em duas ou três semanas (e ficaram enrolando todo um ano com o passado do Orson).

    Quanto ao humor da série, sinto muito, mas cansou. Nesta temporada, em função das novas situações criadas pelo salto no tempo até que a série recuperou o fôlego (exemplos: a Bree dando cachorro quente pro neto vegetariano, a filha da Gabrielle agindo como bullie, etc). Mas a verdade é que o seriado, como grande comédia, esgotou sua fórmula muito rapidamente.

    Mas eu concordo contigo: Desperate Housewives ainda vale 40 minutos do meu tempo. Mas não acho que mereça mais prêmios e indicações – existem meia dúzia ou mais de comédias melhores e mais relevantes do que ela.

  16. adriano - 15/03/2009

    parabens pelo texto. DH é uma das poucas series atuais q me deixam com vontade de ver o proximo episodio.

    achei a temporada 4 otima, merecia ter tido mais sucesso e destaque, pq foi uma grnade temporada. a temporada 5, atual, eu estava achando boa, mas desde janeiro tenho achado os episodios fracos e cansativos, nao acho q essa temporada esteja boa, ta faltando algo..

    só acho q dana, ta muito distanciada das demais donas de casa, ela nao participa das cenas juntas com as outras, e acho isso uma pena. e ela aparece pouco. lynette ta muito chata nessa temporada, bree precisa a ter akeles ataques da temporada 1, mas apesar disso torço pra DH recuperar prestigio e roubar o posto de greys e ser a serie numero 1 da ABC, é injusto greys levar mais meritos, destaques do q DH

  17. Ângelo Romão - 15/03/2009

    Ah, Paulo, até que você não discordou de mim tanto assim, já que ambos achamos que o mistério da temporada é o que menos importa e que a repetição da fórmula tirou a série do pedestal conquistado no primeiro ano.

    E nossa! Essa subtrama do pedófilo realmente foi um dos grandes acertos da série. Lembro de pular do sofá quando a Lynette adentrou aquele porão…

    De fato, só discordamos na parte do humor. Para mim, ele continua ótimo e mesmo durante o trem descarrilhado que foi a 2ª Temporada houve grandes momentos.

    E fala sério, aquela cena em que todos que estão na sala de jantar são convocados a examinar o vômito do Benjamin para atestar se é mesmo carne o que ele havia comido entrou para o hall desses momentos. O enforcamento acidental da Edie também foi de uma perversão tremenda. Ou quando a Gaby pergunta indignada a Susan:

    -Do you think Juanita is too fat for her age?!

    E Susan responde:

    -Gaby, she’s too fat for YOUR age.

    Eu poderia citar 1001 exemplos…

    O que eu entendo é a reação constrangida ou incômoda de algumas pessoas devido a esse humor tão negro que a série apresenta. A questão é que ela faz isso muito bem, ao contrário de outras séries como Worst Week, pra citar um exemplo.

  18. Maurício - 15/03/2009

    Angelo, também acho a Dana ótima (ela é quem salva a 4ª temporada), mas com a entrada dela a série perdeu o ritmo sim, muitas donas de casa para uma critividade momentaneamente limitada.

    Ah! Eu sinto falta da marginalidade da série. DH é uma série que diferente de outras pode viajar no roteiro e fazer coisas quase que inimaginaveis

  19. Ana Maria - 16/03/2009

    Eu não sou uma telespectadora assídua de DH mas nas poucas vezes que assisti a série gostei. Destaco o trabalho de Felicity Hufmann e Marcia Cross, duas excelentes atrizes. Só estou colocando meu comentário aqui porque algo chamou minha atenção.Dos 18 comentários efetuados 17 são oriundos de pessoas do sexo masculino. E eu que pensava que DH fosse a série preferida das mulheres. Acho que os homens, além de uma boa história,querem ver as “beldades” do seriado.

  20. Flávia C. - 19/03/2009

    “E isso ainda vale 45 minutos do meu tempo.”

    Do meu também, Ângelo!!!

    Concordo com tudo o que você falou e também sempre gostei muito da Edie. Vai fazer falta!

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