Girls – Females only/ Truth or Dare e She Said Ok

Data/Hora 27/01/2014, 09:55. Autor
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Girls me pegou desde o primeiro episódio por identificação. O pulo do gato de Lena Dunhan é conseguir fazer com que situações como consumir crack em um beco de uma festa estranha ou entrar em uma caixa com televisões passando imagens aleatórias em um date com um artista pareçam familiares. É como se tudo isso não só fosse possível, mas que se encaixasse em nossas vidas, mesmo que na verdade nossa semana se resuma em entregar textos nos prazos pra não perder o emprego.

A atriz, produtora, roteirista e diretora de alguns episódios de Girls consegue captar a nossa geração tão bem que mesmo em situações esdrúxulas a gente se vê ali. Lena conhece a geração de que fala: uma geração de perfeccionistas, mas que busca a perfeição imediata. E é exatamente na crítica dessa geração que são construídos os personagens e a terceira temporada, até agora, parece ser  a corroboração disso. Ninguém consegue ser perfeito em Girls, e toda vez que chega perto de algum sucesso, leva uma rasteira. Isso porque estão sempre tentando chegar rápido demais, se cobrando demais, e pensando de menos no que fazem. Estão justamente naquela fase da vida em que só aprendem com os próprios erros, e continuam assim, errando. Dunham construiu antiexemplos e continua insistindo em que nenhum personagem de sua série deva ser admirável.

Na estreia, que contou com episódio duplo, o foco não caiu sobre Hanna, ao contrário da grande totalidade dos episódios da segunda temporada. Tivemos muito de Adam e Jessa, pra começar. O namorado de Hanna tem ganhado muito destaque desde a última temporada e ninguém tem o que reclamar sobre isso. Addam Sackler entrega muito bem o papel e seu personagem é um dos mais interessantes da série, e sem dúvida o personagem masculino mais complexo.

Na primeira cena de Females Only, Adam conversa com Hanna na cafeteria quando é abordado por uma ressentida Natalia, sua ex, acompanhada da amiga loira. A ex abandonada descarrega, sob os incentivos de sua amiga, tudo o que queria falar sobre o cara, como insultos que incluem “seu Neanderthal sociopata viciado em sexo”, e não poupa Hanna ao falar que ela terá um filho com ele, não saberá cuidar e cometerá infanticídio. Na maravilhosa sequência de discussão, que tem o tom típico das brigas das produções de Judd Apatow, excluindo as previsões sobre a maternidade de Hanna, Natalia tem toda a razão. Tudo o que ela fala sobre Adam, apesar do tom de humor devido a ênfase da discussão, é verdade. Esse é um dos pontos dos dois episódios de estreia: personagens são confrontados com a realidade a partir da visão que os outros tem deles. Isso é muito comum em Girls, e muito comum na vida de todo mundo que assiste a produção da HBO. É o nosso famoso choque de realidade.

Adam não gosta dos amigos de Hanna, e descobrimos isso enquanto ela prepara uma social em sua casa. Na verdade, Adam não gosta mesmo é de socializar e isso o torna um namorado perfeito para a egocêntrica personagem de Lena Dunham, que precisa de muita atenção o tempo todo. Na road trip que fazem para buscar Jessa na rehab (da qual Hanna reclama de ser muito comum, de não proporcionar nada para que ela escreva sobre), Shoshanna diz para Adam que é bom para o seu namoro que ele não seja uma pessoa normal, e que só tenha que se ocupar com uma atividade sociável, que é o seu relacionamento. É como se para atender Hanna, fosse necessário não ter mais nenhum problema. E Adam parece não ter, ou melhor, não se preocupar, o que faz o personagem ocupar o papel que cabia a Marnie na primeira temporada: equilibrar o caos emocional apresentado pelos personagens de Girls.

Já Jessa, outro foco dos episódios, encontra-se internada em uma reabilitação da qual é expulsa, após hostilizar vários pacientes, ironizar os problemas de todo mundo, e chegar no ápice de fazer sexo com a personagem lésbica da ótima Danielle Brooks, de Orange is The New Black (que, aliás, foi mal aproveitada nessa curta participação). O problema de Jessa na rehab, e talvez em sua vida em geral, é achar que é muito benevolente ao sempre falar a verdade. Mais agressiva do que empática, a hippie sai “resolvendo” os issues de todo mundo de seu grupo de apoio, disparando coisas como “dizer que seu tio te abusou não e desculpa para se ferrar na vida”. E o que temos é novamente um confronto do que ela acha que é, sincera, com o que as pessoas pensam que ela é, maldosa. A diretora da clínica chega a perguntar para Jessa se ela é uma sociopata. A passagem pela rehab parece fazer com que a personagem pense sobre o que ela considera verdade, e aponta para mudanças em seu comportamento nessa terceira temporada.

Falando em mudanças, é impossível não notar que Soshanna parece outra personagem nessa temporada. Sosh agora divide a semana com dias em que intercala estudos e boate, e acaba dormindo na biblioteca nos dias em que não sai pra dançar. A garota tá pegando todo mundo, pensa que uma mulher não pode ser presidente por conta da TPM e se diverte com sitcoms. Onde está Soshanna que conhecemos e aprendemos a amar? Devolvam o cérebro dela, por favor!

Marnie passa por uma fase pós término com Charlie, que sabemos ser um plotline que não estava nos planos dos roteiristas, mas virou a solução após o pedido de demissão de Christopher Abott (que ainda vive em nossos corações). A personagem interpretada pela linda Allison Williams passou por muitas mudanças que destruíram a sua imagem segura que víamos na primeira temporada. Mais uma vez, Lena Dunham destruindo vidas no seriado. Marnie chora pelos cantos pelo término, está morando com sua mãe e chega atrasada em seu novo trabalho, como barista no café de Ray. Só descidas para ela. Confesso que eu torço muito pela Marnie, que em algum momento da série se tornou tão dependente de seus relacionamentos que dá realmente vontade de passar uns conselhos pra ela, que só pode ter daddy issues pra justificar esse comportamento.

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Hanna volta pro foco no segundo episódio (na verdade o terceiro, contando que o primeiro é duplo), She Said Ok. Em seu aniversário estão presentes seu editor (que descobrimos ser gay e cafona), um muito mais bem sucedido Ray – já gerente da rede de café – ,Shoshanna de vestido de couro e nem ligando pro ex, Jessa, Marnie querendo cantar, os pais de Hanna, Adam, e sua irmã, personagem que nos é apresentada nesse episódio, interpretada por Gaby Hoffman. A ótima atriz faz o mesmíssimo papel que ela interpretou em Crystal Fairy and the Magical Cactus, produção encabeçada por Michael Cera, mas funcionou na série tão bem quanto funcionou no filme. A personagem é a deixa pra conhecermos um pouco mais de Adam, que finalmente apresentou um issue familiar: odeia a inconsequente irmã.

Girls voltou com muito mais fôlego do que apresentava na segunda temporada. A série, nos três primeiros episódios, explorou de maneira mais equilibrada os personagens sem parecer que tudo se trata de Hanna. A desconstrução da identidade e a crítica ao perfeccionismo e ao imediatismo está mais direta, mais ácida, mostrando que Lena Dunham ainda conhece a geração para quem ela fala e ainda sabe muito bem como fazê-lo.

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