Entreatos: cultura pop levada a sério – O rompimento da dicotomia de ‘Mad Men’


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Enquanto Mad Men se aproxima do fim, eu só tenho um pensamento: por favor, que não seja horrível. Sim, eu estou com medo deste fim, evitando até a começar a ver a sétima temporada. Porém, não pelos mesmos motivos que me impedem de ver o último episódio de Parks & Rec, mas porque, para mim, Mad Men veio decaindo tanto que eu temo um fim decepcionante.

Eu, como muitos, me apaixonei por Mad Men desde o primeiro episódio. A reconstrução da época, o contexto das histórias, as tramas, as personagens, Jon Hamm… (Ah, Jon Hamm)… Eu, como muitos, vi a série ficar cada vez melhor, as personagens se desenvolverem brilhantemente, os episódios mostrarem o desenrolar do enredo com um impressionante apreço ao detalhe e à cinematografia. E eu, no entanto, como muitos, também vi a Betty virar Fat Betty, vi a Linda Cardellini entrar no elenco, vi o roteiro tornar-se um tanto quanto repetitivo e, o pior de todos, vi Don Draper, inicialmente uma das melhores personagens que já criadas na TV, perder sua tridimensionalidade.

Mad Men começou como uma história de dualidades. A começar pela escolha de época, os anos 60, uma década em que a revolução cultural, os movimentos sociais, e o ganho de voz juvenil iniciou uma era de transição. A passagem de um mundo em que todas as relações e âmbitos eram rígidos, em que a vida no trabalho era completamente separada da vida em casa, e que o papel do homem e da mulher estavam claramente definidos, para outro em em que todas estas instâncias se tornaram fluidas — o mundo que estamos hoje. E Don Draper é uma personagem presa nestes entreatos.

Don é um homem de sua época, e mais um pouco. Com uma vida dupla divida não só entre a casa e o trabalho, o subúrbio e Manhattan, as mulher e as amantes, mas também entre seu passado e presente. O segredo de seu passado funcionava dentro do enredo como a metáfora para a época histórica e vice-versa. Don assistia o seu entorno ser transformado, novas relações se tornando possíveis, e ele ao mesmo tempo que desejava esta liberdade, e até brincava de explora-la, estava ainda preso no homem dos anos 50 que ele é, incapaz de ver sua esposa como uma mulher de verdade, incapaz de introduzir seus outros amores na sua vida quotidiana, e, apesar de todas suas conquistas, com constante medo de ser descoberto como uma fraude, seja pelo chefe, pela mulher ou pela pupila. Até que esta dicotomia se rompeu.

Pouco a pouco, os maiores segredos de Draper foram se tornando públicos, e ele enfim foi capaz de amar uma mulher que fazia parte de todas as esferas da sua vida, fundar a própria empresa, e até revelar seu passado. O nó semântico teria sido desatado. Mas os roteiristas teimaram em continuar a pintar um Draper assombrado pelo seu passado e tecendo segredos, mas agora por quê?

Não me entendam mal, eu adorava o anti-heroismo de Don Draper, e não há nada que eu queira menos do que transformá-lo em uma personagem politicamente correta. Mas isto é ficção, e não vida real, é uma coerência interna é preciso, é preciso verossimilhança. Traçou-se uma longa linha de paralelos semânticos para compor a complexa personagem que ele é, e de um momento para o outro, este paralelos ruíram. Por que ele então continuaria agindo como o anti-heroi atormentado?

Em Breaking Bad, que também temos um anti-herói que vive uma vida dupla, há uma coerência interna do porquê Walter White torna-se cada vez pior mesmo quando há chances dele tomar o caminho contrário: White é, e sempre foi, um lobo em pele de cordeiro. E quando enfim descobrimos isto, o indício torna-se um fato lógico, pois sua história foi desde o começo construída sobre esta teia semântica. Já em Mad Men, não. A todo momento temos uma personagem que se mostra boa, sentimental e até piegas, mas que estava presa nos dilemas de seu passado e de sua complexa época, no entanto ao passo que tudo isso se resolve, ele, ao invés de desatar seus nós, torna-se mais inexplicavelmente canalha, criando um choque de verossimilhança.

Eu não tenho como explicar isso a não ser pelo que eu chamo de síndrome de Lost. Os roteiristas começaram a desenvolver o percurso da personagem e da história sem saber aonde tudo iria parar ou o que eles queriam dizer com tudo isso, afinal, nunca se sabia se haveria uma segunda temporada, e agora estamos na sétima.

Meu desejo para esta última temporada? Um spin off da Peggy Olsen, a personagem que melhor continua sendo desenvolvida à altura das primeiras temporadas da série.

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  1. pedroluiz02 - 10/04/2015

    goste do começo da segunda parte da setima temprada; Don Draper parece que voltou alucinado.

  2. Paullo Mendonça - 20/04/2015

    Hahaha adorei o texto e sou totalmente a favor do spin off da Peggy!! Mesmo concordando com o texto, achei que a sétima temporada desde o início está sendo ótima, mas temo pelo episódio final!!

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