Depois da greve dos roteiristas, uma greve de atores?


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Logomarca do Screen Actors GuildEm 2007, o Sindicato dos Roteiristas Norte-Americano (WGA) não escondia seu descontentamento com a Aliança de Filmes de Cinema e Televisão (AMPTP). Não foi algo gratuito: com o fim do contrato entre as duas partes se aproximando e precisava ser renovado. Os roteiristas fizeram questão de mostrar ao público que os produtores não repassavam corretamente os valores que teriam direito – além de, claro, mostrar sua importância na indústria do entretenimento.

Os meios de comunicação pouco falavam sobre as negociações, que teimavam em não progredir, mesmo com o perigo real e imediato de uma greve, que não era inédita (paralisações, com durações de cinco meses cada, aconteceram em 1960 e 1988). De certa maneira, ninguém queria acreditar que ao fim do contrato os roteiristas cruzariam os braços. Mas aconteceu: a greve que durou três meses resultou em centenas de demissões, incontáveis reprises, temporadas mais curtas, audiências abaladas e um prejuízo de dois bilhões e meio de dólares pra indústria.

Agora, em 2008, o Sindicato dos Atores (SAG) não esconde seu descontentamento com os produtores. Não é algo gratuito: o contrato entre as duas partes vence no próximo dia 30 de junho e precisa de renovação até essa data… É impressão, ou a história infelizmente está se repetindo?

Tal quais as exigências do WGA, o SAG exige revisões contratuais à AMPTP, especialmente no que se toca na parte de novas mídias: DVD e Internet. As negociações já começaram, e depois de pedir um aumento de 100% de suas cotas nas vendas de DVD (o que aumentaria o custo das produções em mais de 500 milhões de dólares, nos três anos de validade do contrato), o SAG já se diz satisfeito em lutar por um aumento de 15%. Também deixaram de lado o aumento de 50% de salário dos atores que trabalham na TV, mas fazem questão de exigir dos estúdios melhores planos de saúde e aposentadoria.

Porém, o grande entrave das negociações são os pagamentos relativos à distribuição online de filmes e seriados, assim como nas negociações com o WGA. O SGA acredita que ao usar a imagem do ator na internet, sem a devida autorização e remuneração, a AMPTP está infligindo os direitos de imagem. Grosso modo, cito um incidente recente ocorrido em um episódio de Grey’s Anatomy: Dr. Burke é citado numa matéria de jornal e aparerece na tela uma foto de Isaiah Washington. Bastou isso para que o ex-integrante do elenco acionasse seus advogados, afirmando que usaram sua imagem sem autorização. O exemplo não é exatamente fiel à situação da Internet, mas mostra um pouco desse conflito: até quando, e onde, a imagem do ator pode ser usada sem seu consentimento ou remuneração? Olhando por outra perspectiva, temos uma pergunta ainda mais capital: os ganhos com a internet já são suficientes para o pedido de aumento dos atores?

Com o fim da violenta greve do WGA, que inclusive inviabilizou a cerimônia do Golden Globe, as relações entre produtores e roteiristas saíram estremecidas e a audiência de praticamente todos os seriados não se recuperou, depois de meses sem episódios inéditos. Como vários roteiristas perderam seus empregos, um aumento de pouco mais de 3% referente as vendas de DVD ficou longe de compensar o estrago. Estrago que pode se repetir com a greve do SAG, caso as negociações com a AMPTP não avancem.

Houve apenas uma greve de atores, em 1980, e essa durou quase cinco meses. Esta resultou num aumento de 32,25% do salário mínimo mais uma cota de 4,5% dos filmes exibidos na TV. Mas resultou em desemprego e na infâmia cerimônia do Emmy de 1980, onde Powers Booth (Deadwood, 24 Horas) foi o único dos 52 atores indicados à comparecer à festa. Ele foi premiado e acabou sendo o único ator do ano a subir no palco, reconhecendo que este ato era, ou o mais corajoso, ou o mais idiota de sua carreira.

Mas longe de pensar apenas nas cerimônias, o efeito colateral da greve do SAG pode ser semelhante à da WGA. Ou mesmo pior. A indústria ainda se recupera das últimas paralisações, e no caso das TVs, uma greve pode ser muito mais preocupante do que pro cinema: ela iria começar exatamente no retorno de gravações de todos os seriados, e dependendo de sua extensão, os efeitos seriam catastróficos. Ben Silverman, presidente da NBC, já afirmou que o canal não sobreviveria à mais uma greve. Além de futuros incertos para The Office, My Name Is Earl, Lei & Ordem, ER, mais outras séries da NBC e claro, a paralisação dos seriados de outras emissoras, o número de desempregados seria enorme.

E não importa quão longa seja a greve, os atores gabaritados continuariam podendo se sustentar. Quem sofrerá com isso são exatamente os atores menos requisitados, pois nem todos os 120 mil afiliados do SAG são milionários. E, convenhamos: Charlie Sheen, que ganha 350 mil dólares por episódio de Two and a Half Men, segurando uma placa num piquete exigindo mais condições de emprego seria ridículo.

A culpa, de um greve, não seria apenas do SAG. A AMPTP também é egoísta com suas rendas e não compartilha seus ganhos na inflacionada indústria do cinema. Bem, também não é uma falha só da AMPTP: o SAG é meio cabeça dura. Tão cabeça dura que a AMPTP recentemente abandonou as negociações e agora lida apenas com estúdios em particular – já surgem os acordos bilaterais. Alan Rosenberg e Doug Allen, respectivamente presidente e diretor nacional do SAG, afirmam que não são favoráveis à greve, mas sem uma atitude forte, uma negociação coletiva se transforma apenas em um pedido coletivo. Ou seja: eles não querem mendigar. Querem ser tratados com respeito. E como vimos tudo isso meses atrás com o WGA, é de se esperar que diretores gritem “luzes e câmera”, mas não tenhamos nada de “ação”.

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  1. Ana Luh - 17/05/2008

    Meu coração não aguenta outra greve!! 🙁

  2. Marcio - 17/05/2008

    Eu bem que comentei, lá no início do ano, e repeti mais algumas vezes. De certo, até cheguei a concordar que talvez não tivesse essa outra greve, por conta da primeira. Mas, parece que não tem escapatória: essa greve do SAG está anunciada há mais de 1 ano!

  3. Moisés - 17/05/2008

    ótimo texto! Bem claro!
    Se essa greve acontecer vai ser um estrago enorme!
    Quem mais perde na verdade são os telespectadores q sofrem com reprises!

  4. Lucas "Gandalf" Leal - 17/05/2008

    é como eu disse no e-mail do grupo acho dificil essa greve sair, por conta de ter saido a primeira, ambos os lados vão acabar cedendo um pouco e entrando num acordo…
    agora cabe a pergunta…eles deram esses 3% pros roteiristas e ‘não compensou o estrago’…estrago pra quem?
    será q compensou os 2 bilhões e meio de preju e ainda ceder esses 3%???
    não seria mais fácil ter oferecido entre 5 e 10 e não ter tido esse prejuizo???
    ou seja todos perderam com a greve dos roteiristas…mas com a greve dos atores acho que os estudios vão perder bem mais…

  5. Bernardo - 17/05/2008

    “Grosso modo, cito um incidente recente ocorrido em um episódio de Grey’s Anatomy: Dr. Burke é citado numa matéria de jornal e aparerece na tela uma foto de Isaiah Washington. Bastou isso para que o ex-integrante do elenco acionasse seus advogados, afirmando que usaram sua imagem sem autorização.”

    Putz, e eu achando que a img dele tava lá por conta de um acordo prévio … bad Shonda!

  6. Thiago - 17/05/2008

    Num episódio recente de South Park, os criadores Trey Parker e Matt Stone, que não são associados à WGA, fizeram uma parábola com a greve dos roteiristas. Canadenses, após anos sem reconhecimento, resolvem entrar em greve até que ganhem mais dinheiro por seus trabalhos. A ONU (produtores ou AMTP) não dá a mínima e contrata dinamarqueses (estrangeiros) pra substituir os canadenses (roteiristas). Famintos e sem ter onde morar, os canadenses percebem que a mídia não dá mais atenção ao assunto, mas o líder deles resolve não ceder pois faria papel de idiota se, depois de tantos meses, não ganhasse pelo menos uma besteira qualquer.

    Graças aos garotos de Colorado que fizeram um vídeo famoso no Youtube (Butters: In Your Butt) e perceberam que o dinheiro ganho com vídeos na internet é apenas hipotético e longe de ser real – gera apenas publicidade – as negociações avançam e a ONU dá à cada um dos canadenses um cupom de restaurante e um chiclete. Refletindo um pouco melhor, o povo canadense se revolta com seus líderes quando percebem que as perdas com a greve foram longe de ser compensadas.

    Em South Park, eles pegam na goela: é ilusório querer ganhar muito dinheiro na internet, a greve só não acabou de picuinha e os resultados não valerem nada…

  7. Vitor - 18/05/2008

    eu acho q não vai ter outra greve, os produtores já viram o desastre que foi a dos roteiristas……. eles podem ser pão-duros mas são inteligentes…. melhor ganhar menos do que ter um prejuizo enorme

  8. João da Silva - 18/05/2008

    Espero que não ocorra greve de atores.

    Bem que poderia ter uma longa greve de dubladores aqui no Brasil.

  9. Natalia - 18/05/2008

    Pensando na quantidade de greves que tem no Brasil, seria maravilhoso se houvesse uma greve eterna de dubladores. Todos as séries e filmes seriam legendados. Eu voltaria a assistir a Fox.

  10. Leonardo Toma - 18/05/2008

    Essa situação só entraria para a fila dos motivos de a economia americana estar em uma constante decadência. Muito dinheiro foi perdido na greve anterior. E muito dinheiro será perdido se essa outra se concretizar.

  11. Giselle - 20/05/2008

    Meu Deus! Outra greve eu não aguento.
    E concordo seria ótimo uma greve por tempo indeterminado de dubladores.

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