Breaking Bad – Felina


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Dizem que tudo que é bom termina logo e por isso, no último domingo, foi ao ar o episódio final de Breking Bad. No tom perfeito de intensidade e drama que a série foi mestre em proporcionar ao longo de quase 6 anos, 5 temporadas, 62 episódios e pelo menos 50 B*tch, FeLiNa encerrou com louvor um dos melhores seriados dos últimos tempos. O epílogo da série trouxe elementos dos seus primeiros anos. A sensação durante todo o episódio era de estar diante do Walter White que conhecemos lá trás na primeira temporada. O homem ainda dividido em dois mundos, não completamente imerso nas sombras como havia sendo representado em episódios anteriores.

É preciso falar primeiro da visita de Walter aos seus ex-parceiros Elliott e Gretchen Schwartz. Uma cena verdadeiramente chocante, de final inesperado e brilhante. Walter chega à casa dos Schwartz sem ser percebido, aos poucos andando pelas sombras, e admirando a casa, talvez imaginando como seria sua vida se ele não tivesse cortado seus elos com a Grey Matter. Walter estava calmo, e esse seu comportamento aterrorizou não somente a Elliott e Gretchen, mas ao público. Porque sabemos o que ele se tornou, o que ele agora representa. E quando Elliott tenta se defender com uma faca, Walter logo rebate que ele precisaria de algo maior, e todos sabemos disso quando lembramos da cena de Walter e Skyler em Ozymandias. Porém, o plano é simples: entregar ao casal o dinheiro restante, para ser transferido para Flynn, como sinal de caridade, dado às vítimas inocentes de um “pai monstruoso”.

Para garantir seu acordo, Walt toma precaução extra para assustar seus ex-parceiros de negócios, colocando os dois sob uma mira laser enquanto a música mais assustadora do episódio toca. Depois de acometer medo duradouro e permanente, é revelado que a artimanha foi honrada por Badger e Skinny Pete. É um regresso brilhante ao Walter dos primeiros anos da série, usando a persona non grata de Heisenberg e inteligência para intimidar as pessoas. Bagder e Skinny Pete, além de ajudarem Walter com seu plano genial de coação, também foram fundamentais para a trama do episódio. Graças a eles, Walter toma a consciência de que Lydia ainda está no “mercado comercializando o SEU produto”.

Eu não consigo pensar em um episódio de Breaking Bad  que fosse tão tenso, ao mesmo passo em que foi previsível. Previsível, porque os acontecimentos e teorias inevitavelmente ficaram rondando a mente dos telespectadores durante semanas. E é claro que Gilligan em sua genialidade se usaria disso. Nenhuma outra cena representa melhor esse sentimento do que a cena em que Walter se intromete no encontro de Todd e Lydia no café. O close no pacote de Stevia – o único da mesa. E mesmo que não ficasse claro naquele momento, era óbvio para todos que aquilo era ricina. Lydia tem seu destino selado graças à sua rotina. Como Walt diz: “10:00h, todas as manhãs, terça-feira, você e eu nos encontramos aqui”. Ela apenas começa a conhecer o seu destino nos momentos finais, incapaz de fazer qualquer coisa sobre ele, ficando apenas um corpo para sua filha encontrar.

E como Walter conseguiu a façanha da ricina vai permanecer dentre os maiores mistérios da humanidade. Tudo nesse episódio se encaixou perfeitamente em favor de Walter – até o carro com portas abertas e chaves que literalmente caíram em sua mão.  É uma conclusão teatral para um seriado nos parâmetros das melhores tragédias gregas e peças shakesperianas.

A câmera se move lentamente revelando, atrás de uma coluna, Walter, enquanto Skyler desliga o telefone (e Marie fazia sua única aparição). A conversa entre o casal é, talvez, a mais significativa do seriado, sendo a primeira vez que Walt foi totalmente, e completamente, honesto sobre seus motivos e seus sentimentos a respeito de suas ações desde o seu diagnóstico de câncer. Além de retirar o peso de Skyler, Walter livra, até certo ponto, a si mesmo. Durante 5 temporadas, Walter mentiu para si mesmo dizendo que tudo o que ele fez foi por família, porque ele não estava preparado para encarar a realidade que todas as atrocidades que ele realizou tinham apenas motivos egoístas. Walter ainda faz mais uma coisa boa enquanto revelava a profundidade de seu fracasso: o bilhete de loteria revelando a localização da cova rasa de Hank e Gomez.

Depois de tirar mais uma tática totalmente imprevisível de sua cartola, Walt conseguiu com precisão, usando uma engenhoca e uma M60, tirar a vida de Jack e de cada um de seus homens, com exceção de Todd, e ainda salvar Jesse. O salvamento não veio através de um último ato de humanidade de Walter White – esta já se foi. O salvamento veio por uma questão de justiça. Uma vez que Walter foi capaz de reconhecer que tudo o que ele fez foi egoísta, ele pode também reconhecer todo o mal que causou a Jesse, e ainda que todas as mortes, as de Gustavo, Mike, Llydia e inclusive a de Hank, foram causados por ele e para ele. Não havia razão em culpar Jesse pela morte de Hank, não havia justiça.

Uma das coisas mais geniais em Breaking Bad é seu senso de moral sempre relativizado, argumentando convincentemente que a morte de Todd, pelas mãos de Jesse, era justa. E por mais que eu não quisesse que Jesse matasse outra pessoa, um sentimento desconfortante de alegria me invadiu quando o último suspiro de Todd veio através das mesmas correntes em que ele manteve o Cão Raivoso cativo.

E então, Walt e Jesse estão juntos novamente, no meio do caos, morte e destruição, orquestrados mais uma vez por Walt. No decorrer do show, Jesse foi aluno de Walt, seu guia, seu filho, seu parceiro, seu inimigo, e sua queda. E os horrores que Walt infligiu em Jesse nunca serão totalmente silenciados em sua mente. Walter reconhece seu destino, ele vai morrer em breve, e permite que Jesse escolha o seu fim. Jesse, cheio de ser manipulado, opta por não deixar Walt ter o caminho mais fácil, e abandona o homem que nunca deu a mínima para ele.

“Acho que ganhei o que merecia…/ Este amor especial que eu tenho por você / Meu pequeno azul.” Assim como a música que embalou Walter em seu ato final, retrata muito bem o que a Series Finale quis passar ao público. Walter aceitando e reconhecendo seu destino – assim como no tão subestimado Fly. E como o próprio Mr. White já disse: a química é o estudo da transformação. Nesse caso, a transformação de Walter White até o momento em que ele encontrou seu destino fatídico ao lado daquilo que ele acreditava que o fazia especial.

Acabou, e a despedida foi mais que apropriada.

– Menção honrosa: Jack foi tarde e foi de um jeito clássico. A cena foi simplesmente impressionante.

Breaking Bad teve 62 episódios. O 62º elemento da tabela periódica é o Samário, utilizado em tratamentos contra o câncer.

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  1. Carla Heitgen - 01/10/2013

    Se eu te disser que me emocionei mais com seu texto do que com o episódio você acredita, Mayra? Sim, porque vi os últimos em sequência. O Ozymandias me deixou sem ar, literalmente. Meu jantar esfriou, esqueci dele. Os dois últimos eu achei mais serenos (se é que pode se chamar assim), pois vimos, como você bem falou, o velho Walter white e o que ele ainda carregava do Heisennberg. Confesso que achei algumas situações da quinta temporada um pouco forçadas para que as coisas saíssem do jeito do tio Walt e no final eu fiquei ali, parada, pensando que não, não foi um final bombástico, mas foi extremante catártico. Um alívio nervoso, como o expressado pela última aparição de Jesse. Eu acho que Gilligan fez um final digno pro fãs da série. Favoritei sua review, e adorei a curiosidade do final. Parabéns!

  2. Mayra Gonçalves - 02/10/2013

    Primeiramente, obrigada. E Ozymandias foi o melhor episódio da série, sem sombra de dúvidas, o tempo inteiro foi pancada atrás de pancada. Depois de digerir os acontecimentos dos dois últimos episódios, penso que Ozymandias foi o grande final da trama, enquanto Granite State e Felina foram o epílogo, usados para fechar o ciclo completamente.

  3. Márcio Santos - 03/10/2013

    Boa tarde Mayra, muito boa a sua análise de tudo, fiquei com a mesma impressão, de que ali, no final, tivemos mais uma vez o WW, Heisemberg lutou para sair completamente, mas o WW tem uma essência boa.

    Sobre tudo acontecer do jeito que ele queria eu discordo um pouco do pensamento da maioria, o que ele mais queria era ter condições de manter a família honradamente, como não conseguiu, por essas coisas da vida que não tem explicação, caiu no seu colo a oportunidade de usar sua genialidade em uma coisa má. E no tempo que ele teve em New Hampshire, sua genialidade foi elevada ao mais alto grau, ele até tenta ligar o carro com a chave de fenda, depois bate no quebra sol e a chave cai, talvez seja costume deles guardar as chaves assim.

    O mais incrível é que um de suas vítimas foi quem lhe apresentou esse mundo, quem lhe mostrou a quantidade de dinheiro apreendida, etc…

    Já vi muitos seriados, e nenhum deles foi tão intenso como BB, com seus personagens de dupla personalidade, sempre permeados por bondade e maldade, Skyler que cobra tanto do marido pelas maldades, mas que dançava e cantava sensualmente para um patrão que visivelmente a desejava, que por esse mesmo patrão, o ajudou a encobrir valores da Receita, e depois deu todo o dinheiro (que Walter ia usar para sumir com a família) do porão para ele.

    Walter Jr. que não gostava tanto de ser como era, sempre reclamando da vida e da falta de dinheiro e até usando um pseudônimo por não se aceitar. Da Marie, cleptomaníaca no inicio da série. Do Hank, boa praça, mas cruel ao tratar com bandidos, sempre fazendo piadas exageradas, mesmo diante de corpos destroçados, e Jesse, sempre drogado, que comprou a casa da familia só para colocá-los pra fora, que acobertou o irmão, que fumava maconha, etc…

    Acho que depois de Breaking Bad, não terei muita paciência com outros seriados, o nivel de acerto foi imenso, e Walter, foi aquele que saiu mais do trilho, e acabou pagando com a morte. Confesso que depois do piloto, fiquei interessado em saber como ele ia morrer, pois tinha certeza que não seria pelo Câncer, e ali, do lado da coisa que o trouxe de volta à vida, ele se foi.

    Viva Walter White!!

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