TeleSéries
Entreatos: Cultura Pop levada a sério – Eu sou grata por Friends
27/11/2014, 19:07. Leticia Genesini
Entreatos
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Canais de binge-watching são a melhor coisa que aconteceu a viciados de series. Não precisar mais esperar a próxima semana para um novo episódio, ficar imerso em um universo antes de partir para o outro, simplesmente apertar próximo e assistir toda a temporada de uma vez são as maravilhas de um novo mundo chamado Netflix. Mas como em toda relação, nada é perfeito, e se há uma perda nesse mundo de comodidades, para mim ela é a falta de um calendário de estações e feriados.
Me explico: as séries sempre tentaram seguir o calendário do nosso ano, mostrando episódios de ano novo, dia dos namorados e natal próximo às suas datas reais. E por mais que o calendário do hemisfério sul não bata tanto com o do norte, a gente aprendeu a assistir episódios de férias de verão durante nosso inverno, a celebrar thanksgiving e a ver natais brancos. As séries do Netflix não ignoraram essas datas, como vimos em Orange Is The New Black, mas convenhamos, não é a mesmo coisa – a gente pode (e talvez deva) não ter a árvore do Ibirapuera, mas não é natal sem christmas specials.
Então esse ano eu vou assumir esse papel e assistir aos episódios especiais nas datas que eles foram feitos para serem vistos. E se você está aí imerso vendo Walter White cozinhando meth pela décima quinta vez, eu vim aqui lhe lembrar que hoje nos EUA é o thanksgiving, dia em que personagens de séries sentam à mesa para comer peru, batata, criar novos pares de interações e convidar celebridades para fazer cameos.
Assim convido todos para celebrar o thanksgiving da melhor maneira, assistindo aos episódios especiais da série que por dez anos nunca falhou em comemorar esta data (ou qualquer outra): Friends.
Aí vai meu ranking de episódios de thanksgiving de Friends – são menos de 5 horas, então não há desculpas para não celebrar, afinal quem precisa dormir?
RANKING (NÃO DEFINITIVO) DOS EPISÓDIOS DE THANKSGIVING DE FRIENDS
10) The One with the Late Thanksgiving (Temporada 10)
Eu amo Friends, mas a 10a temporada não devia ter existido.
9) The One Where Chandler Doesn’t Like Dogs (Temporada 7)
Época em que o Matthew Perry não estava atuando muito bem.
8) The One with Rachel’s Other Sister (Temporada 9)
Christina Applegate. As irmãs da Rachel tem o melhor casting. Ponto.
7) The One with the Rumor (Temporada 8)
Participação especial de Brad Pitt quando ele e a Jeniffer Aniston eram o casal 20 da TV. #TeamJen
6) The One with the List (Temporada 2)
Não tem muito de Thanksgiving, mas é um ótimo episódio. #Ross&Rachel.
5) The One With All The Thanksgivings (Temporada 5)
Eu não gosto muito de episódios só com flashback, mas Friends take it to a whole other level. Como não amar Fat Monica? Sem contar a melhor cena de “I love you” da série.
4) The One Where Ross Got High (Temporada 6)
Eu amo os pais da Monica e do Ross e a paixão da Phoebe pelo Jacques Costeau. Perfeita combinação.
3) The One Where Underdog Gets Away (Temporada 1)
As primeiras temporadas são definitivamente as melhores porque mantém a essência de Friends: ‘ninguém estava preparado para ser adulto, mas pelo menos a gente tá junto’.
Thanksgiving parade, chaves perdidas, erros de entoação e um jantar de queijo quente… como não amar?
02) The One with Chandler in a Box (Temporada 4)
Não chorar com este episódio é pior do que não chorar com o início de Bambi.
01) The One with the Football (Temporada 3)
Gellers Cup, a melhor tradição de thanksgiving.
Entreatos: Cultura Pop levada à sério – Yes, Please!
13/11/2014, 20:00. Leticia Genesini
Colunas e Seções, Entreatos
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A autobiografia da Amy Poehler mal saiu e eu já devorei! Chamada Yes, Please, o título do livro é inspirado nos preceitos da improvisação que guiou não apenas sua carreira, mas também sua vida pessoal: para trazer uma cena a vida é preciso dizer “sim” à contribuição dada por seu parceiro e a partir daí construir algo em cima disso.
Cheios de histórias hilárias e contadas com o tom de voz tão autêntico da atriz, o livro mistura com pouca censura casos da vida pessoal e profissional de Amy. Dentre tantos capítulos, incluindo os “obrigatórios” (como diz a própria) capítulos sobre drogas e sexo, uma de minhas passagens favoritas é a narrativa do parto do seu primeiro filho — uma história engraçadíssima que envolve um obstetra italiano octogenário, John Hamm, um episódio de Law&Order e Amy completamente grávida vestida em um figurino dos anos 60. De fato, a realidade é a mais surreal das ficções.
Inesquecível também são todos os capítulos que contam como ela se apaixonou pela comédia de improvisação, participando de grandes trupes como ImprovOlympic, The Upright Citizens Brigade e The Second City — onde ela conheceu sua “comedy wife” Tina Fey —, seus dias (noites e madrugadas) fazendo Saturday Night Live, e a família que ela criou em Parks & Recreation.
Yes, Please foi lançado em três formato: o bom e velho livro, um e-book e um audiobook — todos que eu planejo ler, reler e ouvir tanto quanto assistirei a última temporada de Parks. Mas se você não é que nem eu e tem mais o que fazer da vida ou respeita uma boa noite de sono, minha dica é: compre o audiobook. Não por preguiça, ou economia de tempo e praticidade, mas simplesmente porque ele é melhor. O e-book tem pequenos vídeos que ilustram os capítulos de Parks, por exemplo, citados no livro, mas o audiobook traz o melhor de Amy e de sua narrativa.
Amy é uma ótima contadora de histórias, mas ela não é uma escritora, ela é uma atriz (uma das melhores) — e ela sabe bem disso—, por isso transformou seu audiobook em uma performance onde ela teria a oportunidade de fato mostrar seus talentos. Quase todo livro é gravado em estúdio, mas não apenas por Amy, que cria uma leitura colaborativa convidando seus pais e amigos a lerem trechos e capítulos do livro. Um destaque indispensável é o doce e hilário Seth Meyers, que não apenas leu um trecho, como escreveu um capítulo sobre sua amizade com a atriz. Uma dose de non-sense também é indispensável no livro, que incríveis cameos de incríveis atores como Patrick Stewart e Kathleen Turner (por que não, né gente?).
Mas a cereja em cima desse waffle é o último capítulo. Contato ao vivo para uma plateia no Upright Citzens Brigade, nele podemos ver o talento de Amy se aflorar. Ela é definitivamente uma performer, ela se alimenta da relação com a plateia, e isso faz com que suas piadas ganhem não apenas seu devido tom, mas uma energia a mais. Vejam —ou melhor, ouçam — confiram, e criem comigo uma campanha para uma live tour, um especial de 1 hora e meia produzido pelo Lorne Michaels, e um audiobook sequel gravado completamente ao vivo.
Entreatos: Cultura Pop levada a sério – Comédia x Drama
30/10/2014, 21:40. Leticia Genesini
Colunas e Seções
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Na última edição do Emmy’s Awards, Orange is The New Black recebeu 8 indicações e levou para casa 3 estatuetas, incluindo uma, merecidíssima, consagrando a atuação de Uzo Aduba no episódio Lesbian Request Denied. Um número expressivo, de modo geral, mas que foi pouco comparado ao sucesso de público e crítica que acompanhou o lançamento da série.
Alguns enxergam nisso uma resistência dos meios já consagrados em relação ao Netflix, que produziu a série. Porém, eu tenho uma segunda opinião: o que freiou o sucesso de OITNB nos Emmy’s foi sua classificação: ela foi inscrita nos prêmios como uma série de comédia.
Eu lembro que logo assim que as nominações foram publicadas perguntaram ao cast do programa ironicamente: vocês sabiam que que vocês estavam fazendo uma série de comédia? De fato, há um humor singular no roteiro, mas parece-me um pouco estranho colocar OITNB ao lado de séries como The Big Bang Theory e Mom. Por outro lado, ela não é um drama exatamente — é um ‘comedy-drama’ (ou dramédia).
Durante anos, a TV americana testou formatos e criou receitas de sucesso, que resultou numa dicotomia fundamental — sitcoms de comédia de 30min e séries dramáticas de uma hora — resistindo a qualquer coisas que fugisse muito a essas formula.
Logicamente, este formatos lançaram grandes series de sucesso que amamos — como Friends —, assim como houveram os Mavericks que conseguiram driblar as exigências estabelecidas — como Seinfeld. Mas também muitas séries fantásticas, como Freaks and Geeks, não sobrevivera a primeira temporada porque não se enquadravam em nenhum dos lados.
Amy Sherman-Palladino, criadora de Gilmore Girls, falou sobre o assunto ao comentar sua decisão de sair de Gilmore Girls (ela se demitiu antes da última temporada) e ao escolher um canal da TV a cabo para produzir seus novos projetos:
“Elas [as redes de televisão] não estão interessadas em drama e comédia se misturando. Elas acreditam fortemente que drama deva ser drama, e comédia deva ser comédia, e não é isto que eu faço” — Amy Serman-Palladino
Este foi um movimento comum nos últimos anos. Como, por muito tempo a glória de uma série era aparecer no prime time de um canal de TV (network), diretores e roteiristas aceitavam (relutantemente, convenhamos) mudanças e intervenções em suas criações para se enquadrar em formatos pré-estabelecidos. Até que canais a cabo, com menor audiência, mas mais aptos a se arriscarem a inovar, apostaram e novas séries, novos formatos e mais liberdade criativa. Assim nasceu séries como Mad Man e Breaking Bad — sucessos hoje consagrados produzidos pela, até então desconhecida, ACM — e criou-se uma nova reação: talvez, em um mundo de youtube, utorrent e hulu, um spot no primetime de grandes canais não seja tão valioso assim, quanto fazer sua ideia do seu jeito.
Mas é claro, a engrenagem continua girando, e aos poucos até canais a cabo ganham a exigência de produzir um sucesso após o outro, e com isso aumentam as intervenções criativas. Assim, a última série de Amy Sherman-Palladino a ir ao ar, Bunheads, mesmo sendo produzida pelo canal a cabo ABC Family já chegou ao fim após uma única temporada.
E enquanto isto acontece, nasce um novo núcleo de produções: podcasts, séries online, e o Netflix, com suas novas produções, assim como algumas ressuscitadas, que arriscam ousar mais. Quando os sistemas consagrados se viciam em suas fórmulas, novas produtoras sem nada a perder (por enquanto) continuam a inovar. Elas podem ainda não ter ganhado a admiração dos jurados dos Emmy’s, mas talvez isso não importe, o importante é que eu ainda aguardo o dia em que o Netflix vai refilmar Freaks and Geeks e agora, quem sabe, continuar Bunheads. Esse dia tem de chegar!
Entreatos: Cultura Pop levada a sério – Parks & Recreation e os Mockumentaries
16/10/2014, 20:39. Leticia Genesini
Colunas e Seções, Entreatos
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De Seinfeld à Buffy, minhas séries favoritas sempre foram aquelas que ousaram a fazer exercícios formais, aquelas que não apenas contam uma história, mas que decidem narrá-la. Os exemplos são inúmeros (suficiente para um artigo só sobre isso), mas é inegável que criadores como Jerry Seinfeld e Joss Whedon mudaram o modo com que o Prime Time vê as séries com episódios como Chinese Restaurant (Seinfeld; Temporada 01, Episódio 06); Hush (Buffy; Temporada 04, Episódio 01) e Once More With Feeling (Buffy; Temporada 06, Episódio 07).
Assim, quando a nova moda das séries de comédias passou a ser o mockumentary, eu esperei amar instantaneamente, mas, para minha surpresa, o resultado foi o oposto. Eu sentei para assistir Steve Carell e John Krasinski, dois comediantes que eu profundamente admiro, na versão americana de The Office, e achei difícil ver um episódio até o fim. O problema não era o humor — antes que nossos leitores fanáticos por séries me crucifiquem, eu quero deixar claro que até hoje qualquer gif ou quote da séries que eu encontro na internet me faz cada vez mais pensar que eu preciso dar novas chances a The Office —, o meu problema, por incrível que pareça, era o formato.
“Mockumentary”, como muitos já sabem, contrai os termos mock + documentary, sendo um formato que usa a estética de um documentário para narrar ficção. Este não é um modelo novo, se hoje ele é conhecido por séries como The Office, Parks and Recreation e Modern Family, ele já foi consagrado por grandes filmes como Zelig (Woody Allen, 1983) e This is Spinal Tap (1984). Mas enquanto em Zelig o filme simula um documentário pronto, acabado e editado, nas séries que eu acompanhei, este modelo incorpora a ideia de um documentário que está sendo filmado. Na prática, isto significa criar o efeito de que alguém está seguindo os atores com a câmera na mão, dando um movimento de câmera que pareça espontâneo – em outras palavras, tremido. E não importa quão boas possam ser as piadas, para mim, é impossível prestar atenção em qualquer outra coisa quando a câmera mostra uma imagem tremida e que muda constantemente.
No entanto, depois de muitas discórdias com as séries mockumentaries, cá estou eu completamente viciada e apaixonada por Parks & Recreation — uma série que, aliás, tem os mesmos criados e produtores executivos que The Office (Greg Daniels, Michael Schur e Howard Klein). Então, o que mudou?
Bem, ao início, nada. Ao assistir ao primeiro episódio o correu o mesmo que com The Office — rejeição instantânea. De fato, a primeira temporada de Parks é, como o próprio elenco e criadores admitem, horrível. Mesmo quem não sofre com a rejeição de mockumentaries que eu tenho, aponta como as personagens não eram bem desenvolvidas, tornando-as simplesmente desagradáveis. A sorte é que o sentimento foi geral, e a primeira temporada foi comprada com apenas 6 episódios, assim, eu resolvi dar uma segunda chance (afinal, alguém, como Amy Poehler, que participou, com Tina Fey, dos mais brilhantes Weekend Updates que SNL já teve, e que grávida de 8 meses fez um rap ao vivo para Sarah Palin definitivamente merece uma segunda chance).
Para a minha alegria, a partir da segunda temporada as coisas começaram a mudar. Sem perder a estética de um documentário low-budget, as câmeras progressivamente ficaram mais estáveis, o que me permitiu tirar o foco do que me incomodava para apreciar a recriação de um dos melhores ensambles de comédia.
E ao enfim conseguir prestar atenção na série em si, eu não apenas passei a apreciar suas situações inusitadas, sua incrível caracterização de personagens, e seu leque de piadas que vão do pastelão físico a criticas inteligentes, mas também seu formato mockumentary em si. Eu pude então perceber, que ao menos em Parks, a estética mockumentary não é simplesmente um apelo formal, mas um formato escolhido por melhor veicular seu conteúdo.
O estilo escolhido permitiu um interessante desenvolvimento das personagens ao possibilitar inúmeros momentos em que elas se voltam à câmera para dar seu “depoimento” — é principalmente através destes cortes que passamos a conhecer as irreverencias pessoais de cada uma delas. Além disso, este bem sucedido desenvolvimento é acentuado por uma nova estratégia da equipe de filmagem: posicionar câmeras escondidas para que os atores não saibam todos os ângulos sendo gravados — um ótimo recurso posto em prática junto à grande capacidade de improvisação do elenco.
Mas creio que a grande vantagem da escolha deste formato foi que ele permitiu aos roteiristas criar um paralelo com acontecimentos reais — como a falência de pequenas cidades americanas — através de uma simpática sátira, sem ter sacrificar a piada nem a simpatia que hoje é característica da série. Não consigo imaginar um modo de contar a mesma história através da narrativa convencional sem cair em piadas pesadas ou numa história que acaba ganhando mais destaque do que o humor em si (como acontece com a maioria das séries de comédia).
Ao fim, Parks & Recreation atingiu um equilíbrio em que a forma ao invés de ser um empecilho para a apreciação do conteúdo, como era no início, passou a trabalhar junto com ele. Basta dizer que depois desta minha reconciliação com o mockumentary, me resta dar uma segunda chance a The Office e torcer que lá eles também tenham achado este equilíbrio entre a forma e o conteúdo.
Entreatos: Cultura Pop levada a sério – True Detective e as piadas internas
02/10/2014, 20:00. Leticia Genesini
Entreatos
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Na última edição do prêmio Emmy Awards, True Detective, série de HBO criada e escrita por Nic Pizzolato, recebeu sete indicações e obteve quatro vitórias, incluindo Outstanding Cinematography for a Single-camera Series. Mas o que marcou mesmo a noite para a produção foi um sutil e irônico comentário que quase passou desapercebido pelo grande público.
Durante a cerimônia os astros da primeira temporada, Matthew McConaughey e Woody Harelson, subiram ao palco para apresentar as indicações melhor ator em uma minisérie ou filme. Em meio às piadas do script, Harelson aproveitou para tirar umas risadas a mais, ironizando: “I’m grateful you had all the plagiarized line” (Sou grato que você tinha todas as falas plagiadas).
COLUNA | Do banquete do Emmy para a sua casa
Dado o silêncio da plateia McConaughey replicou com um sorriso “Was that too much of an inside joke?” (Será que foi muito uma piada interna?).
A dupla se referia à polêmica que acompanhou a série nas semanas que antecederam o prêmio, quando um site que reúne fãs do obscuro escritor Thomas Ligotti acusou a série de plagiar os trabalhos do autor. Basta uma rápida pesquisa do Google ou no Youtube para encontra dezenas de comparações entre o texto de Ligotti e as falas escritas por Pizzolato para a personagem de McConaughey, e logo perceber que as semelhanças entre eles. Trechos como os seguintes saltam nas páginas da web:
“We became too self-aware. Nature created an aspect of nature separate from itself. We are creatures that should not exist by natural law.” (True Detective)
We know that nature has veered into the supernatural by fabricating a creature that cannot and should not exist by natural law, and yet does. (Ligotti)
Não se trata de uma coincidência, porém, nem tão pouco de um plágio. Que Pizzolato leu e se inspirou em Ligotti não é mistério para ninguém, era um fato já estabelecido pelo roteirista, que mesmo antes da polêmica havia citado o escritor como uma de suas fontes na construção de suas personagens. A questão está no contexto: ao acusar a série de plagio os fãs de Ligotti voltaram-se às regras de construção de texto estabelecidas por universidades e jornalistas, porém o roteiro de uma série não é um trabalho acadêmico, mas sim artístico, e neste campo o jogo muda.
Em arte criar a partir de um outro texto ou outra obra não é plagio, mas sim uma ferramenta de intertextualidade, a paráfrase (palavrinha que nos leva diretamente de volta aos tempos de colegial e cursinho). Isto não quer dizer que não haja aí a noção de propriedade intelectual (a grande greve de roteiristas deixou isto bem claro), ou que não possa haver plágio no mundo artístico. A chave da diferença está no verbo: criar. Plágio é tomar como seu o trabalho artístico que já existe, mas beber de um texto para criar algo novo e além da fonte original nada tem a ver com cópia. Tom Jobim usa notas de Chopin para compor, mas ele não buscou ser um segundo Chopin, e sim lançou mão da inspiração para criar a bossa nova. Picasso se inspira nas máscaras africanas, mas o cubismo que ele criou a partir dela não existia até então. E Machado de Assis, como centenas de outros grandes escritores, se voltou a Shakespeare para achar os grandes temas de seus romances.
E com as séries não podia ser diferente, Breaking Bad faz referências a Shelley, Mad Men, volta-se à Dante, e Buffy (minha blíblia pessoal no mundo das séries), revela a mente plural de Joss Whedon citando casualmente frases de Shakespeare, Frost, entre outros clássicos da literatura. E estas referências estão abertas para todo bom leitor que souber encontra-las, Machado de Assis esperava que seu leitor visse o ciúme de Otelo em Bentinho – é como uma piada interna entre o autor e o leitor. E se isso acontece dentro do hermetismo das ‘grandes artes’, como não há de acontecer no mundo plural da cultura pop, em que nos comunicamos por quotes, citações como uma linguagem própria que outsiders não compartilham. As frases de Ligotti não estão escondidas, elas estão às claras para que seus fãs identificassem, afinal, todo fã é no fundo um trekkie se comunicando com seus iguais em Klingon.
Sem contar que as frases do próprio Ligotti apresentam influências dos filósofos ditos pessimistas como Nietzsche e Schopenhauer – fontes que também serviram de inspiração para True Detective, segundo Pizzolato. E aí que está a beleza do diálogo artístico, as conversas.
O que devemos fazer é celebrar que a TV americana esteja criando produções que possam estabelecer diálogos entre grandes obras capazes de atrair o público do Prime Time e, no melhor estilo da cultura pop aproveitar cada uma dessas ‘piadas internas’ que nós, fãs assíduos, consigamos compartilhar.
—
Oi pessoal! Bem vindos à primeira edição da nova coluna do TeleSéries, Entreatos! A Letícia vai falar sobre cultura pop por aqui sempre às quintas-feiras. A cada 15 dias uma nova coluna estará no site, falando sobre assuntos randômicos e bacanas. Temas sérios com uma leitura nem tão séria assim.
Deixem suas impressões sobre a coluna nos comentários, e contem-nos o que vocês esperam ver por aqui. Nos encontramos em duas semanas!
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