Primeiras impressões – Agora Sim!


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Agora sim?

A lei 12.485, feita para fomentar a produção audiovisual na TV por assinatura no Brasil, teve um efeito colateral imediato: serviu pra expor o quão frágil é o setor no país. Ao exigir que os canais de variedades reservassem três horas e trinta minutos por semana em sua grade para programação brasileira no horário nobre, a lei expôs que não existia uma produção nacional rica o suficiente para preencher este espaço e que canais e produtores precisariam dominar diversas técnicas para emplacar uma nova programação. O resultado foi o que vimos nos últimos dois anos: Fox, Warner e Sony reprisando filmes nacionais, muitos de qualidade duvidosa, pra cumprir a cota.

O mercado não estava pronto pra atender a demanda.

Agora sim.

Agora Sim!

Ao contrário de outros formatos, a teledramaturgia exige muito de seus realizadores. Em outras palavras, fazer uma boa série é difícil. TV é indústria, não é arte. Uma série exige um padrão de qualidade maior que o da telenovela, a especialidade da nossa indústria. Fazer uma série exige regularidade, e depende de encontrar a melhor solução para a equação qualidade x velocidade.

A indústria da televisão funciona na base do acerto e do erro. Nos EUA, onde temos a produção mais consolidada do mundo, estão estreando nos próximos 40 dias (pouco mais, pouco menos) cerca de 25 séries (só nas cinco grandes redes). Mais da metade delas não estarão no ar em maio de 2014. Da linha de produção americana saem joias e também grandes fracassos, na mesma proporção.

Pra um canal de TV por assinatura no Brasil, com escassos recursos financeiros e a obrigação legal de colocar três horas e trinta minutos de programação no ar, não existe a possibilidade da tentativa e erro. Ou você encomenda e exibe um programa novo que todos queiram assistir ou encomenda e exibe um programa novo que ninguém vai querer ver.

É neste cenário que a Sony está entrando no ar com a sua primeira série nacional: a comédia Agora Sim! Inteligente, o canal buscou um show que ficasse em sua zona de conforto – ainda que há tempos tenha desistido de exibir comédias no primetime (decisão questionável, com certeza), este é o canal de Seinfeld, de Will & Grace e o canal que exibiu Friends pela primeira vez no Brasil. Agora Sim! vai combina com o DNA da Sony e – no que pode ser o maior elogio que eu poderia fazer a série – ela realmente lembra as sitcoms que a Sony exibia às pencas no primetime no início dos anos 90.

Agora sim!

Agora Sim!

Conceitualmente, Agora Sim! é uma sitcom, sem tirar nem por. Os personagens transitam num mesmo ambiente (no caso, uma agência de publicidade de medíocre), tem uma boa premissa funcional (as tentativas do dono da agência de reinventar seu negócio), tem personagens com personalidades e defeitos facilmente distinguíveis e o roteiro tenta impor um ritmo constante de piadas. A Mixer (a mesma produtora de A Vida de Rafinha Bastos, Descolados e O Negócio) fez o tema de casa.

Do ponto de vista técnico, no entanto, os produtores decidiram não arriscar. O show se apropria dos recursos das sitcoms americanas (gravada em estúdio, com cenários fixo e a tradicional quarta parede) mas evita gravar com múltiplas câmeras (reposicionando a câmera dentro do cenário), dispensa a plateia, e até mesmo as criticadas trilhas com risadas ao fundo para marcar os momentos cômicos. Uma pena. Porque Agora Sim! tem um texto razoavelmente bom, um elenco afiado e se beneficiaria se fosse produzida neste formato (vale ressaltar que o grande sucesso da TV paga na atualidade é Vai que Cola, que é uma sitcom).

O fã de comédias americanas provavelmente não se sentirá confortável com Agora Sim! É difícil ignorar o abismo de qualidade entre ela e uma sitcom do Chuck Lorre. Mas a verdade é que a série é realmente autêntica e simpática e tem um elenco esforçado e veterano – você provavelmente já viu todos eles em comerciais, filmes ou mesmo em outras séries, como Augusto Madeira (com passagem por A Grande família), Rodrigo Pandolfo (de Mulher de Fases e A Menina sem Qualidades), Thiago Pinheiro (Descolados) e Mayara Constantino (de Tudo o Que é Sólido pode Derreter, que não está no episódio piloto).

Agora Sim! é um primeiro bom passo da Sony. Que venham os próximos porque, agora sim, parece que lei 12.485 começa a cumprir sua função.

* * *

Agora Sim! estreou nesta quinta-feira, dia 26/9, às 22h, na Sony Entertainment Television. O episódio piloto pode ser assistido gratuitamente no site do canal, clicando aqui.

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  1. Carla - 28/09/2013

    Paulo, parabéns pelo post. Você começou de um jeito e quebrou a expectativa, mudando o tom do texto com o próprio nome da série. Muito sagaz de sua parte, rs.
    Quanto à cota, creio que muita gente concorda que expôs uma fragilidade em termos de qualidade no Brasil. Mas ainda assim, temos alguns exemplos de qualidade. O que acho arriscado é seguir o modelo de sitcom. O Vai que Cola é de auditório, ao estilo de Sai de Baixo e Zorra Total, já consagrados (com controvérsias) por aqui. E tem um elenco conhecido. De qualquer forma, vou ver o Agora Sim. Que bom que o TS é tão democrático. 🙂

  2. Paullo Kidmann - 29/09/2013

    Quando ouço que vão estrear uma nova série brasileira fico animado pois quero muito ver a nossa industria crescer e quando isso acontece ( no caso a estreia de uma nova série) eu sempre assisto! Assisti agora sim, e simplesmente não gostei, talvez eu assista a algum episódio no futuro mas acompanhar ou se eu perder ficar procurando reprises como eu faço por exemplo com o negocio eu não irei.
    Uma pena pois quando fiquei sabendo que ia ser um show que se passava em uma agencia de publicidade fiquei super animado ( por está na faculdade de publicidade) e por achar que iria ser muito engraçado pois vejo isso como algo promissor e engraçado, mas não foi o que aconteceu e isso fica claro a nossa “fragilidade” apontada por você Paulo.
    No mais adorei o texto, muito bom mesmo, parabéns.

  3. natalia conti - 05/12/2013

    Eu estou louca atrás da musica de abertura, se alguém achar, avisemm 🙂

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