19/07/2015, 10:00. Paulo Serpa Antunes
Reviews
Rectify

Acho que, às vezes, ele crê que fez, e às vezes, ele crê que não. Eu realmente acredito que ele não sabe.

Eu decidi parar de fazer campanhas para que mais pessoas assistam Rectify. Verdade seja dita, é um caso perdido. Rectify é ficção para iniciados. E mesmo para o telespectador mais treinado, um fã de Breaking Bad, por exemplo, não é fácil.

Eu tinha alguma esperança que Rectify pudesse, ao menos pelas beiradas, ganhar alguma projeção no Emmy Awards. Uma indicação para Abigail Spencer, por exemplo, não seria nada mal. O calendário, no entanto, não ajuda nada ao programa. Uma série que vai ao ar no verão, que eleitor da Academia irá lembrar no ano seguinte?

No ano passado tínhamos a desculpa de que o Sundance TV era um canal desconhecido. Mas as recente quatro indicações – com boas chances de conquistar ao menos estatueta – para The Honorable Woman meio que acabam com o argumento. A esta altura a Academia sabe que Rectify existe, só não se importa tanto com a série como você eu.

Felizmente, Rectify segue gozando de grande prestígio no Sundance e foi renovada para um quarto ano justamente na véspera da estreia de sua terceira temporada, que foi ao ar no dia 9 de julho nos EUA (e que ganhou esta semana uma legenda em português pela turma do Insubs).

Diferente do que eu imaginava, a confissão Daniel Holden na temporada passada parece que não mudará muito o ritmo da série neste terceiro ano. O diálogo acima, dito pelo seu advogado, resume e define a série: admitir o assassinato de Hanna Dean, duas vezes, não significa que Daniel a tenha matado. Quem continua acreditando na sua culpa ou inocência, continuará acreditando na sua culpa ou inocência.

Eu também acreditava que a aparição do corpo de George Melton poderia levar a série a se afastar de sua trama original, mas, apesar da perspicácia do xerife Daggett, a investigação da morte parece que será um elemento importante mas sempre secundário da série.

Agora ele sai da cidade, enquanto o resto de nós fica aqui, na merda.

Hoorah, a season premiere, no entanto, mexe um pouco com a narrativa da série. Tivemos um flashback e um delírio assustador de Daniel – se vendo na cadeira elétrica – ao final do episódio. Mas antes disto o que vimos foi o tempo de tela bem distribuído entre os demais personagens, sugerindo que todos terão suas storylines – como Jared, que até invadir o quarto de Hanna, na última season finale, era subaproveitado na série. Outro exemplo disto é a cena final, com o chocante AVC do senador Foulkes. Foulkes já não cumpriu sua função na série, expulsar Daniel na cidade? O que sua nova condição pode impactar em Daniel, sua família ou a população da cidade?

Rectify teve um retorno sólido, respeitando o seu ritmo e sua linha narrativa. É uma série para iniciados, como vocês e como eu. A questão é nos contentarmos com seu discreto anonimato e aproveitar este e o próximo ano da dura jornada de Daniel por redenção.