Breaking Bad – Ozymandias


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Palavras não fazem justiça a uma das horas mais emocionalmente destrutivas, dramáticas e ainda satisfatórias que eu já tive a oportunidade de assistir. Não houve apenas uma cena de destaque, ou alguns picos de tensão insuportável. Este foi um episódio onde tudo e todos os envolvidos no seriado se uniram pra criar uma obra que George Martin nenhum conseguiria colocar defeito. Bryan Cranston e Anna Gunn criaram juntos uma das melhores cenas (provavelmente a melhor) como Walter e Skyler White. Betsy Brandt e RJ Mitte não ficaram atrás, bem como, Dean Norris em uma sequência quase que perfeita na atuação.

O episódio começa outra vez com uma narrativa não linear, agora tão familiar em Breaking Bad. Um salto, e somos remetidos a um prólogo longe da saraivada de tiros e a angústia do final de To’Hajiilee. Assim como em Box Cutter, o primeiro episódio da quarta temporada, que usa a mesma técnica a fim de mostrar ao público o primeiro dominó caído, e as razões que, nesse caso, geraram a morte de Gale. A abertura de Ozymandias enfatiza o mesmo sentimento, em uma cena onde Walter e Jesse trabalham juntos pela primeira vez. Onde ainda havia inocência em ambos os lados, onde a primeira mentira de Walter foi encenada em um lugar chamado To’ Hajiilee, o grande palco do seriado.

E nesse mesmo local, Gomie e Hank encontram seu destino fatídico. O episódio anterior não terminou bem para esses personagens, as chances não eram boas. Mesmo assim, mesmo que esse destino fosse insinuado, ver a maneira tragicamente simples como os personagens foram “despachados” chocou. A primeira vez que vemos Gomez, ele já estava morto, e Hank tem uma bala na perna, olhando para a arma como sua última linha de defesa, impotente e se arrastando pelo chão – em uma sutil referência ao episódio One Minute.

O impressionante nessa cena foi ver Walter lutando pela vida de Hank, como se estivesse lutando por si mesmo, pelo último suspiro de uma humanidade que há tanto tempo está em um estado terminal. O genial e manipulativo Walter White não é capaz de convencer os nazistas a pouparem a vida de seu cunhado. Em lágrimas e desespero, Walter pede ajuda a Hank, o que gerou um dos melhores momentos do seriado. Em um último ato repleto de dignidade, orgulho e coragem, Hank finalmente fala a Walter: “Você é o cara mais inteligente que já conheci, e estúpido demais para entender que ele já decidiu (me matar) dez minutos atrás”. Assim, o personagem com o maior apelo heroico do seriado tem sua vida ceifada por um tiro na cabeça, e agora jaz em uma cova rasa, indiretamente, cavada por Walter.

Todas as tramas que foram aos poucos desenvolvidas na segunda parte da quinta temporada avançaram em ritmo inacreditável. Em 20 minutos de episódio Walter perde todo o controle, permanece fraco, ele não é mais o ”imperador” Heisenberg. Como o soneto de Shelley, que deu nome ao episódio, diz “nada mais resta: em redor a decadência, daquele destroço colossal, sem limite e vazio. As areias solitárias e planas espalham-se para longe”.

Não há dúvida que Jesse está no inferno. Preste a morrer, Todd intervém como uma questão de segurança “empresarial”, mas mais como um meio de tortura. E Walter se entregando a seu ódio rancoroso, torcendo a faca da culpa, confessa a verdade sobre a morte de Jane. Em um episódio cheio de monólogos, brigas, morte e destruição, eis o discurso concebido para infligir o máximo de dor: “Eu assisti Jane morrer. Eu estava lá. E a vi morrer e sufocar até a morte. Eu poderia ter salvado. Mas eu não fiz.” É apenas selvagem e emocional, com a única função de antecipar a morte de Jesse, que agora voltou a ser um homem abatido e vazio, já sem forças de lutar. O cão raivoso agora está na coleira, mantido em um poço, arrastado para fora apenas para ser forçado a cozinhar metanfetamina, com uma foto de Andrea e Brock posta como lembrete e uma ameaça.

Walter ainda está sob a impressão equivocada de que ele tem um mínimo de controle sobre a situação. Mas depois de outro ataque verbal de seu filho, Skyler chega a seu limite. Skyler finalmente decide ser aquela que protege a família do homem que a “protege”, ela vê que os motivos de Walter são os mais egoístas e novamente volta a se impor. O foco da câmera nas facas vem como um presságio da violência que está por vir. Walt e Skyler brigam, até que Júnior intervém parar defender sua mãe e chama a polícia (Vai, Flynn!); Holly gritando no fundo; Walt insistindo que eles ainda eram uma família. E em um ato final, egoísta e pretendendo castigar Skyler, Walter foge com a bebê Holly. E como uma mãe desesperada correndo pelas ruas, coberta de sangue, gritando por sua filha, Anna Gunn nunca foi tão empática em seu desempenho com atriz.

“Ozymandias”, o soneto escrito por  Percy Bysshe Shelley, descreve temas como a arrogância, a transitoriedade do poder, a permanência da arte e a relação entre o artista e sua obra. Não acredito que melhor figura de linguagem pudesse ser utilizada para escrever de maneira tão sublime a condição de nosso protagonista. Heisenberg, “aquele que bate”, nunca se viu tão impotente, e tudo que sua “arte”, sua obra deixou foi um legado de dor. Walt acaba na mesma interseção que Jesse, em frente a mesma estrutura que lembra um cemitério, à espera de que a minivan vermelho para levá-lo para uma outra vida.

O episódio, em suma, foi sobre perda e luto. Foi sobre como os atos ecoaram desde o primeiro momento em que Walter e Jesse dirigiram pela primeira vez até To’Hajiilee. Tudo o que Walter tocou uma vez se inflamou até apodrecer. Sua família foi irremediavelmente destruída pela própria ação que tinha o intuito de garantir o seu futuro. Jesse está preso em um tipo de morte em vida. E Walter White finalmente sucumbiu à arrogância de sua outra metade, Heisenberg.

Os oito episódios finais estão amarrando a trama aos poucos sem deixar pontas soltas. Logo teremos as respostas para as perguntas levantadas no primeiro episódio desse arco final (Pra que ricina? E quem terá o destino decidido por uma M60?). As teorias são muitas, mas depois de um episódio do calibre de Ozymandias, minha única expectativa aos episódios finais de Breaking Bad, que terão 70 minutos, é sobreviver. Alguém aí quer assistir Rains of Castemare pra animar o dia?

– “Mama!” Holly White.

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  1. Thiago FLS - 23/09/2013

    Na minha opinião, esse episódio bateu “The Rains of Castamere” como o mais contundente da TV americana este ano. É a lei de Murphy correndo solta, e todas aquelas coisas que torcíamos para não ter que presenciar (mas que no fundo sabíamos que eram inevitáveis) acontecendo uma atrás da outra. Sorte nossa que a equipe de roteiristas de Breaking Bad não é tão bunda-mole quanto a de Dexter, e o que dizer da belíssima direção de Rian Johnson e do desempenho brilhante de todo o elenco?

    E como leitor de quadrinhos, não pude deixar de notar a semelhança entre a última fala de Hank e a fala mais memorável do personagem Ozymandias em Watchmen. Dado o título do episódio, duvido muito que tenha sido coincidência, embora a referência mais óbvia seja o soneto de Shelley.

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