Review: Californication – Filthy Lucre


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Californication - Filthy Lucre
Série: Californication
Episódio: Filthy Lucre
Temporada:
Número do episódio: 9
Data de exibição nos EUA: 8/10/2006
Data de exibição no Brasil: 11/3/2008
Emissora no Brasil: Warner

SINCRONICIDADE
Acepções

• substantivo feminino
1 qualidade do que é sincrônico
2 Rubrica: psicologia.
segundo a teoria de C.G. Jung, coincidência de um estado psíquico com um acontecimento exterior correspondente que ocorre fora do campo de percepção do observador

Lendo a perspectiva de Carl Jung sobre a sincronicidade, vamos analisá-la de uma maneira mais pop, solicitando a ajuda de uma das maiores bandas de todos os tempos: o The Police.

Quando Sting, meio que obcecado pela teoria de Carl Jung, compôs o magistral disco Synchronicity, não imaginava que seria o maior sucesso comercial da carreira da banda, bem como um disco que influenciaria bandas, artistas e pessoas comuns, como Hank Moody e todos aqueles que o cercam. A idéia de “normal” pode ser subjetiva na medida em que, ao não aceitar os sentimentos que são jogados na nossa cara, todos nós esquecemos que vivenciamos diariamente o ciúme, tema central do episódio.

Every move you make
Every vow you break
Every smile you fake
Every claim you stake

I’ll be watching you

(Every breath you take)

Charlie e Hank, tomados pela culpa de verem seus relacionamentos naufragarem, recorrem a uma das mais antigas reações humanas: a dissimulação. Jogam para debaixo do tapete seus sentimentos e, de uma forma sincrônica, tentam reaver aquilo que já se perdeu há muito tempo. A própria essência do companheirismo, mais conhecida como amor, aqui devastada pelo ciúme de Charlie e, de uma forma ainda mais escondida, de Hank.

Ao retirarem a película que impede a visão real do que está em jogo, descobrem que já foram descartados, de um jeito ou de outro, em favor de vidas radicalmente contrárias ao que estavam vivendo até então.

A connecting principle
Linked to the invisible
Almost imperceptible
Something inexpressible
Science insusceptible
Logic so inflexible
Causally connectable
Yet nothing is invincible

(Synchronicity)

Os conceitos de moderno e de antigo, vão de encontro quando gostos musicais – Kill Jill X Supertramp – são confrontados, dando a real percepção de um casamento mais uma vez fadado ao fracasso, onde Karen, fugindo do porto seguro de Bill, recusa-se a, mais uma vez, entrar no terreno pantanoso que é a vida de Hank. Uma leitura, mais do que simplesmente uma ação comum, pode representar uma excitante volta àquilo que está escondido dentro dela: o gosto pelo perigo. Assim como a esposa de Charlie experimenta sua própria idéia de excitação, ao trazer para dentro de casa aquilo que ela também procurava, mas encontrava-se adormecido. Mais uma vez, ações sincrônicas, resultados sincrônicos. Decepção e perplexidade.

Young teacher, the subject
Of schoolgirl fantasy
She wants him so badly
Knows what she wants to be
Inside her there’s longing
This girl’s an open page
Book marking – she’s so close now
This girl is half his age

(Don’t stand so close to me)

Mais uma vez o sexo é um prenúncio de tempestades, já que Hank, ao contrário do que muitos possam imaginar, não recuperou sua escrita depois da noite com Karen. O próprio amor – ainda que impossibilitado – se encarregou de transformá-lo em um homem renovado, à procura de seu próprio porto seguro, a razão de sua notável expiação, em forma de um livro que emula Nabokov, numa história que encontra vazão, como se o próprio Hank, incentivado pela sua nova situação, tentasse limpar sua culpa pelo sexo proibido. O próprio sexo que foi a força motriz por trás da libertação de Marcy. Sincronicidade.

Californication - Filthy LucreO simbolismo da guitarra pode trazer algumas conclusões, afinal nada substitui uma clássica Fender Telecaster, guitarra-fetiche de vários, pertencente a artistas tão díspares como Bruce Springsteen, Jimi Hendrix e Keith Richards. Sua própria identidade equivale à quantidade de notas que foram compostas e tocadas, guardando histórias que encontram paralelos nas vidas de todos que são afetados por Hank. Uma nova persona não pode ser substituída pela vivência e pela experiência de uma pessoa que passou por tantas lombadas na vida, trombando na maioria delas. A metáfora do presente de Hank para sua filha pode representar aquilo que não é visto na superfície da série. Os relacionamentos, apesar de serem absolutamente sincrônicos, ajustam-se como um riff tocado na nova/velha guitarra de Becca. Emocionam, mas são etéreos. Precisam encontrar uma morada para serem gravados e registrados, sob pena de não serem ouvidos. Ou, pior, esquecidos.

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  1. Tula - 18/03/2008

    Osório
    Não desmerecendo os outros cooperadores deste site, mas é sem palavras a descrição ou melhor o que você consegue espremer de um simples episódio da série.
    Não sou muito fã de spoilers (esse não é um, ufa!)e apesar de acompanhar só a primeira temporada de Californication seu texto me fez querer mais do que nunca não só assistir a esse episódio mas a continuar investindo na série.
    Simplesmente, amei!

    Bjs….

  2. Paulo Fiaes - 18/03/2008

    excelente texto
    vcé uma fonte inesgotável de cultura.
    só me diz uma coisa, pra ver se posso chegar ao seu ritmo um dia
    como vc faz as pesquisas? tpo, como vc analisa um episódio e pega referências pop que combinem com ele? eu escrevo pra uma série que a musica é muito importante, de repente, posso aprender algumas coisas contigo.

    abraços!

  3. Osório Coelho - 18/03/2008

    Opa! Obrigado pelas gentis palavras…

    Paulo, como já escrevi por aqui mesmo, só comento sobre aquilo que eu já ouvi/li/assisti. Tenho comigo que uma review deve, além de dar um panorama sobre o episódio, mostrar as citações e, se possível, amarrar com alguma coisa legal.

    Às vezes é um parto, mas a série facilita, já que possui muitas referências pop. Claro que eu não me lembro de tudo, mas para isso existe o google…hehe. Por exemplo, o texto de Montaigne. Eu já tinha lido, mas não lembrava literalmente.

    E o legal é dar sua visão particular, ou seja, dar a cara a tapa mesmo, afinal a discussão cresce quando existem opiniões contrárias.

    E, para finalizar, não citei Van Morrison no texto. Quando Bill cita que gostaria de tocá-lo no seu casamento, eu vibrei, mas não encontrei onde inseri-lo no texto. Portanto segue um top five do bardo para quem não conhece um dos maiores compositores vivos:

    1. Astral Weeks
    2. Moondance
    3. St. Dominic’s Preview
    4. Avalon Sunset
    5. His Band and the Street Choir

  4. Iana - 18/03/2008

    Nossa, seu review ficou maravilhoso!!!As referências do Police foram muito bem colocadas e o texto fugiu totalmente dos reviews de séries que encontramos na internet que não passam de resumos.

    Parabéns!!!
    Abraços ^^

  5. Paulo Fiaes - 19/03/2008

    uma dica
    qndo vc coloca as letras de musicas
    n podia colocar a tradução embaixo entre parenteses?
    e valeu pelas dicas
    vou procurar seguir.

  6. Osório Coelho - 19/03/2008

    Again, obrigado. A dica foi anotada, Paulo. Minha única preocupação é carregar demais na review, mas vou tentar adaptar. Abraço.

  7. Rodrigo - 20/03/2008

    Sei que já te elogiaram muito, e você realmente merece. Gosto muito dos seus reviews, eles adicionam muita coisa a percepção da série. Espero ansiosamente pelo próximo.

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