Review: Studio 60 on the Sunset Strip – The Option Period e B-12


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Cena de The Option Period
Série: Studio 60 on the Sunset Strip
Episódio: The Option Period e B-12
Temporada:
Número do Episódio: 9 e 10
Data de Exibição nos EUA: 20 e 27/11/2007
Data de Exibição no Brasil: 19 e 23/9/2007
Emissora no Brasil: Warner

Se havia alguma dúvida de que Sorkin é um liberal, o episódio The Option Period veio confirmar isso. Nele, o principal tema de discussão é o Mercado. Como um norte-americano liberal, de velha cepa, Sorkin atribui ao Mercado virtudes fáusticas. Não há mudanças sem perdas e danos. Assim, o mercado traz consigo a principal qualidade constitutiva da modernidade: ser ao mesmo tempo libertador e destruidor.

Mas segundo Studio 60, o que distinguiria então o liberalismo tradicional do chamado neoliberalismo? O episodio mostrou que na visão liberal tradicional, o mercado age mais como uma instituição e um mecanismo de regulação das relações sociais, entendidas como frutos de escolhas e decisões individuais. Nesse sentido, o mercado é um instrumento para o exercício da liberdade de escolha, da garantia do direito de ir e vir, mas de forma alguma é soberano e se impõe sobre as escolhas dos indivíduos e cidadãos. Ele não é um fim em si mesmo, apenas um meio.

O episódio nove coloca então em cena exatamente este embate entre uma ética liberal norte-americana tradicional e neoliberal. Ele mostra também o quanto as conseqüências da substituição de uma ética pela outra é percebida como sendo igualmente predatória por vários setores norte-americanos e não apenas para o resto do mundo. Jordan, Cal, Danny e Matt recebem ordens de cima para cortar pessoas.

O que está em jogo então, é como a despeito das exigências “de cima”, ou as “exigências do mercado”, eles decidem conduzir o processo de forma ética, de modo a minimizar as perdas e danos dos atingidos. Há uma diferença entre saber que em uma sociedade livre, os vínculos de trabalho são e podem ser transitórios, e outra de saber que eles se tornaram precários ou inexistentes. Este me pareceu o mote do episódio.

O telespectador pode achar que existiu uma coincidência feliz. Que Cal, Danny e Matt no exato momento em que receberam ordens de dispensar funcionários, coincidentemente, descobriram o problema do erro no roteiro e encontraram ali a justificativa para dispensar os responsáveis. Sem dúvida, essa é uma leitura possível, mas eu a considero uma leitura problemática.

A questão é que há outra realidade apresentada pelos roteiristas demissionários. Eles também estão insatisfeitos com Studio 60. Este já não era para eles o melhor dos mundos, portanto, a disposição de partir já era grande. O erro da pontuação do roteiro, se por um lado aponta uma negligência, evidencia que ela não foi gratuita. A conversa com Matt é fundamental para entendermos esse outro lado do trabalho tão pouco discutido: a falta de realização e gratificação pessoal que mais adiante se transforma em negligência, em erro. Por que se erra tanto no trabalho? Não é exatamente por causa do medo de perdê-lo, mas, exatamente porque a precarização do trabalho nos vem tirando o direito de desejar perdê-lo, de mudar de um trabalho para outro, apostando em outras possibilidades.

O episódio termina reafirmando os velhos preceitos liberais. De um lado, a transitoriedade dos vínculos de trabalho é celebrada pela saída dos antigos roteiristas que agora terão de enfrentar novos desafios, em função de suas escolhas. Lucy e Darius terão de cobri-los, mas não podemos entender isso como algo negativo, porque não é assim que ambos vêm os fatos. Para eles, a saída dos outros não deixa de assumir um caráter de promoção, de oportunidade, de chance e de conquista de espaço, embora tudo seja, ao mesmo tempo muito contraditório. Afinal, trata-se de um novo começo que se inicia quando terão de dar o máximo de si e dizerem, afinal, a que vieram. Sem dúvida alguma, quando não se é escravo ou servo, o preço da liberdade do trabalho é o risco de nada dar certo, mas se não se tentar, a liberdade também perde o seu sentido.

* * *

É complicado pegar um simples programa de TV e querer transformá-lo, de repente, numa caixa de ressonância das mudanças culturais que estão ocorrendo neste momento. Mas o fato é que Studio 60 se presta muito a isso porque, para mim, ele foi concebido com a intenção de dialogar com essas mudanças que estão ocorrendo nos EUA e vem atingindo sobretudo a sua Industria Cultural. Nesse sentido, ele tem um pé no experimento e outro na crítica social.

Mas essa discussão traz consigo outra tão ou mais relevante, acerca da natureza mesma da Comédia, sobretudo o seu significado político e moral. Em vários momentos, quando Matt fala sobre a Comédia ou sobre o fazer a Comédia, vemos que a intenção de Sorkin foi trazer de volta um longo debate existente no pensamento ocidental acerca do valor heurístico e epistemológico do riso, vendo-o ao mesmo tempo como um modo de ação, de intervenção política e, consequentemente, de invenção do próprio conhecimento e entendimento sobre o mundo, especialmente em tempos sombrios, de crise de paradigmas, quando os horrores desse mundo tendem a nos paralisar como se fossem Medusas.

Em algum trecho de seu tratado sobre a poética, Aristóteles justificou ter começado seu estudo pela Tragédia, por considerar a Comédia e o riso duas coisas bastante sérias e problemáticas. O que ele quis dizer exatamente ninguém sabe, uma vez que nunca chegou até nós o segundo livro dedicado à Comédia. Ao longo dos séculos, os comentaristas interpretaram de forma bastante diferente e contraditória as palavras de Aristóteles, ora para reafirmar a superioridade moral e política da Tragédia sobre a Comédia, no intuito de salvaguardar uma moralidade cristã fundada no sofrimento e na espiação, ora, ao contrário, para sustentarem o quanto o riso e o humor constituem, não apenas um sinal de civilidade, mas de saúde política.

A esse respeito, Graham Greene, um novelista inglês, a propósito de uma viagem ao Brasil e de seu conhecimento sobre nossa literatura, escreveu que somente as sociedades maduras conheciam o valor e a necessidade do riso. Para ele, nós, brasileiros seríamos mais maduros que os norte-americanos, porque sabíamos rir de nós mesmos. Nos anos oitenta, Umberto Eco escreveu O Nome da Rosa retomando não apenas a observação aristotélica sobre o lado problemático da Comédia, mas também as observações de Greene sobre o riso como um signo de civilidade e política, em oposição à barbárie, ou pelo menos, de um tipo de barbárie que o sectarismo religioso pode levar.

De fato, a saída de roteiristas experientes de Studio 60 criou uma série de problemas para Matt e Danny. E novamente entra em cena a questão da criatividade e da capacidade de se reinventar. Não por acaso, Martha O´Dell reaparece.

Novamente entramos junto com ela nas entranhas do processo criativo e produtivo de Studio 60. O episódio todo é uma aula de produção, ou como se produzir um programa de TV nas piores condições possíveis, ou seja, quando não se tem exatamente aquilo que constitui a espinha dorsal de qualquer programa: um bom texto, um bom roteiro, um bom script e, junto com ele, uma boa direção. Parece-me que este é um ponto de honra para Sorkin, qual seja, homenagear aquilo e aqueles profissionais – os roteiros e os roteiristas – que para ele continuam sendo o cerne do showbiz, essa instituição tão norte-americana.

Essa é uma discussão urgente, porque de nada vale a parafernália tecnológica dos efeitos especiais, a entrada em cena das novas mídias, os grandes temas, a introdução dos novos modos de produção cultural, se por detrás disso tudo não houver um bom texto, o roteiro não for bem concebido e construído. Como podemos observar, em Studio 60, tudo começa com o roteiro, com as idéias sendo dispostas em textos e diálogos, e a própria produção do show não pode ser vista como um processo ou etapa a parte que se segue à elaboração do roteiro. As idas e vindas de Cal, Danny e Matt, da sala de roteiro ao estúdio de gravação são uma demonstração cabal de que o processo produtivo na TV, por mais industrial ou mediado pelas novas tecnologias, continua possuindo uma dimensão artesanal e, nesse sentido, se insere completamente no plano da criação artística.

Darius e Lucy são promissores, porém inexperientes e ainda não fizeram sua estréia como roteiristas principais. Até então eram colaboradores destes. O episódio gira em torno de seus respectivos batismos de fogo. É chegada a hora de se apresentarem como profissionais de verdade. Neste caso, o que fazer, como prepará-los para o desafio? Tudo começa no momento de se tomar uma idéia – inspirada nos noticiários locais – e transformá-la em diálogos, dar-lhes o ritmo e a entonação necessários para marcar uma intenção, no caso a intenção cômica que provoque o riso.

Como Matt tenta explicar para Harriet, que apesar de uma boa atriz comediante não consegue contar uma piada de cabeça, a Comédia tem um tempo, exige uma economia de linguagem que, por sua vez, exige um domínio sobre como articular visão e audição no sentido de captar o humor ou o nonsense contido nos acontecimentos.

E aí entra uma dificuldade adicional, pois embora todos os gêneros narrativos façam isso de um modo ou de outro, sejam tributários de sua época, a Comédia mais do que todos é sempre um comentário do presente, daquilo que está acontecendo aqui e agora, mesmo quando se utiliza de personagens e cenários distantes, do passado ou do futuro para dizê-lo.

Cena de B-12Studio 60 é um show baseado em esquetes e a maior parte desses esquetes pretende ser sátiras da vida social norte-americana atual. O mote do episódio foi mostrar como esse pressuposto simples pode se transformar numa verdadeira caldeira do diabo, se não houver quem saiba conduzir adequadamente esse processo de tradução de uma realidade paradoxal, sombria e até mesmo trágica para a comédia. Além da perícia em saber dominar as palavras e o tempo, tem também o contexto. O final do episódio deixa claro que muitas vezes o trágico supera e cala a comédia ou a possibilidade de os homens rirem de si próprios.

Mas é o artista cuja “sensibilidade” associada à experiência de escuta e de olhar quem vai decidir o melhor momento para se deixar calar. Essa foi a primeira grande lição de Darius e Lucy como roteiristas comediantes de verdade. Depois de uma semana elaborando o esquete, depois de tudo pronto, precisaram abrir mão dele e do riso. Como pudemos observar, a decisão final de suspender o esquete não pode ser vista meramente como censura ou mesmo algo moral, mas revela a perplexidade crescente de uma sociedade diante de suas dificuldades e de como lidar com elas. Nesse contexto, o riso torna-se então um problema político sério porque pode ser entendido como um dispositivo cínico, oportunista de ridicularização do sofrimento alheio. Sem dúvida, o final do episódio aponta para esse tipo de saída. Mas fica a pergunta no ar de, até que ponto, mesmo correndo-se esse risco, o riso pode ser banido completamente no trato das questões sociais ou mesmo coletivas.

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  1. Henrique Martins Henriques - 05/11/2007

    Promessa é dívida: criada a comunidade no orkut “Eu queria morar numa série do Aaron Sorkin”

    http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=41363035&refresh=1

    E vamos começar a encher o saco: ninguém tem informação do lançamento da caixa de DVD´s aqui no Brasil?

    Abrrrraço.

  2. Jaqueline - 05/11/2007

    Adorei o review,um dos melhores episódios…por que,ó,por que???????????????Ninguém mais aguenta me ver lamentar o fim de Studio’60.Bora torcer pelo DVD!

  3. Maria Luiza - 05/11/2007

    Quando há o menor sinal de vida inteligente no mundo das séries é abortado! Lamento muito!

  4. Simone Miletic - 05/11/2007

    Henrique,

    Se eu ainda tivesse orkut entrava na comunidade para ontem!

    Acabei de escrever o meu review do último episódio e ainda tô assim, de luto pela perda de algo que me era tão especial.

    E não, ainda não temos confirmação do lançamento da caixa por aqui, na realidade ela foi oficialmente lançada a pouco tempo por lá… Resta reassistir os que baixei (todos).

    Beijos

    Si

  5. Samantha - 05/11/2007

    Agora é só lamentar o cancelamnto dessa série. Se antes eu tinha raiva agora então!!

  6. Rafaelly - 05/11/2007

    Lamentava o cancelamento de Studio 60 a cada episódio q terminava e não foi diferente no último episódio…Chorei pacas ao ver Matt e Danny indo embora para sempre.O que foi aquele relógio no final???Triste demais…

  7. Rodrigo - 10/11/2007

    Impressionante como cancelam uma série tão boa. Infelizmente, tudo é dinheiro e audiência como foi criticado nos dois últimos episódios. A warner vai repetir? Pois só me dei conta que estavam passando dois episódios inéditos por semana quando já havia perdido pelo menos dois eps. Não há caixa de DVD que preencha o vázio de não haver a continuidade da série

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