Review: Studio 60 on the Sunset Strip – The West Coast Delay


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Cena de The West Coast Delay Série: Studio 60 on the Sunset Strip
Episódio: The West Coast Delay
Temporada:
Número do Episódio: 4
Data de Exibição nos EUA: 9/10/2007
Data de Exibição no Brasil: 8/8/2007
Emissora no Brasil: Warner

Um capítulo importante da história da Indústria Cultural é a discussão de como as mudanças sociais, aliadas à introdução de novos meios e tecnologias afetam as formas de representação da realidade. Isso vale para a arte em geral – pintura, literatura, teatro, cinema – como a própria cultura de massas.

O que essas transformações nos mostram é que elas simplesmente não aconteceram e se impuseram, sem antes provocarem uma crise profunda nas formas de representação anteriores, o que também não significa dizer que elas implicaram necessariamente no desaparecimento das outras formas existentes: a arte de pintar não desapareceu, mas não foi a mesma depois da fotografia e do cinema, da mesma forma que a literatura; o impresso não desapareceu e nem vai desaparecer por causa da Internet, mas, é claro, que muita coisa mudou e vai mudar daqui por diante. A mesma coisa está acontecendo com os demais meios e formas de representação, inclusive a televisão.

Creio que essa breve introdução pode nos ajudar a entender melhor as questões tratadas em Studio 60. A série não é apenas uma sátira inteligente sobre os bastidores ou as engrenagens de um show de televisão ao vivo, mas, sobretudo, uma crítica eloqüente dirigida a todo um modelo de se fazer televisão.

O recurso de se fazer isso do ponto de vista daqueles que produzem o show, não deixa dúvidas sobre o teor da mensagem de Aaron Sorkin, criador da série. Além de imprimir um caráter maior de dramaticidade, chama atenção ainda para a urgência com que esta questão deveria ser discutida por todos: desde os profissionais envolvidos com o meio, da criação à produção, artistas, executivos, anunciantes e até o próprio público. Aliás, um capítulo a parte é o público. Ele não é exatamente o foco da série, mas é, sem dúvida, um dos grandes temas dela. Por que?

Porque ele não é mais o mesmo. Um dos pontos importantes abordados por Sorkin em Studio 60 é que a televisão deve encarar de frente o fato de que ela não tem mais o controle sobre o público como antes. Na verdade, todo mundo está perdido, pois ninguém mais sabe exatamente como lidar com ele, como agradá-lo ou mesmo prever suas reações. Temos assim o primeiro grande dilema abordado pela série de forma brilhante e contundente, já no primeiro episódio: o que fazer com esse público que a Tevê conhece e controla cada vez menos, enquanto ele cada vez mais adquire poder de veto ou de decisão sobre a programação, sobre o que é transmitido? Como lidar com essa importante mudança operada no relacionamento entre emissores e receptores, onde os últimos adquiriram tamanha autoridade? Ao mesmo tempo, o que fazer também com um público que vem sendo politicamente anestesiado? E para piorar, o que fazer, se também os criadores estão sendo impedidos de exercerem sua capacidade crítica e reflexiva sobre a realidade? Enfim, como se adequar aos novos tempos da Internet em que cada segmento de público pode escolher e decidir privadamente o que deseja assistir?

Studio 60 tenta nos mostrar o tamanho dessa crise e também que existem dois modos básicos de se lidar ela: o primeiro é ignorá-la, correndo-se todos os riscos, optando-se pela inércia e pela exaustão completa do modelo existente, deixando que ele se esgote completamente. O segundo é procurar entender o que está acontecendo e partir em busca de novas alternativas antes que o pior aconteça.
Não é preciso dizer que Sorkin é um defensor da segunda posição. Como escritor e homem de televisão, devotado ao meio, ele sabe que o primeiro passo para superar a crise é a televisão conhecer e discutir exaustivamente a sua própria linguagem, pois é dessa maneira que ela encontrará os meios para tal e ajustar-se aos novos tempos. Foi o que aconteceu com a literatura, com as artes plásticas e com o cinema. Por que não seria também com a Tevê?

Chegamos assim ao episódio 4, que girou justamente em torno do processo de criação do show. A reunião que dá início a ele, mostrando todos em volta da mesa tentando vislumbrar alguma idéia enquanto comem é um sintoma alarmante da completa aridez criativa em que se transformou a televisão. Na balbúrdia que se segue, a reunião não mostra uma confusão criativa, mas ruído, cansaço, esgotamento, e, portanto, denuncia o fordismo televisual, ao mesmo tempo em que decreta sua própria falência.

O que deveria ser o investimento mais importante da indústria televisual atual, a criação, tornou-se uma cadeia atabalhoada de decisões que se misturam a um sem número de fórmulas velhas e gastas. Assim, em determinado momento, todos se dão conta de que as idéias desapareceram por completo e, para piorar, elas parecem faltar também no plano da vida pessoal, haja vista a falta total de imaginação com que Matt (Matthew Perry) lida com seu problema amoroso, tanto quanto no plano profissional. Neste último, a correria somando-se à superficialidade com que ações importantes são tomadas, dá origem a uma seqüência de mal entendidos sobre a autoria e a autenticidade de uma piada.

Em se tratando de um show que se baseia no humor e na sátira social, não deixa de ser uma grande ironia, mostrar, primeiramente, que não existe mais ambiente para a sátira (episódio piloto) e, agora, para piorar, mostrar que todas as piadas contadas no show podem ter a qualquer momento sua autenticidade e originalidade contestadas por alguém que saiba acessar um velho vídeo postado na internet.

Cena de The West Coast Delay É nesse momento que a Internet aparece na história, sendo importante observar que ela não é introduzida exatamente como uma concorrente disputando audiência com a televisão (como vem sendo explorado especialmente aqui no Brasil), mas justamente como o meio que pode denunciar e expor as fraquezas da televisão, explicitar algumas premissas falsas sobre as quais ela construiu o seu enorme poder diante do grande público.

Temos então algo bem diferente do que simplesmente mostrar os conflitos internos em torno da produção de um programa de Tevê. Ao contrário, o que assistimos durante todo o episódio é a revelação das contradições e dilemas de um modelo que até então se acreditava todo poderoso. Sorkin expõe para todos a extrema fragilidade desse modelo, mostrando-o, enfim, como algo que está prestes a ruir. Catastrófico? Apocalíptico? Sim, mas essa parece ter sido realmente a intenção dele: “chutar o balde” ou o “chutar o pau da barraca” como dizemos aqui, na tentativa de desanestesiar todos aqueles que deveriam estar à frente do processo criativo na Tevê.

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  1. Rafa Bauer - 18/08/2007

    Ótima, ótima, ótima review!

    Baixei a série e estou assistindo a no mínimo um episódio por dia. Suas observações foram muito pertinentes, adicionou coisas às minhas próprias impressões sobre o episódio e sobre a série!

    Parabéns e continue com as críticas de Studio 60!

  2. Lucas "Gandalf" Leal - 18/08/2007

    não vejo a série mas sempre leio o review e fico curioso pra ver…mais uma vez um ótimo texto!
    ps talvez eu não veja a série pq me apeguei demais a 30 rock e como as duas tem lá as suas semelhanças eu criei um certo preconceito com studio 60…

  3. Vanessa Brdo - 18/08/2007

    Nossa, muito boa review, Laura!
    Para mim esse foi um dos melhores episódios da série. E soube que foi baseado num caso real do SNL dos anos 90, em que Jay Mohr roubou uma piada, rolou até processo. A diferença é que aqui a piada era deles mesmos, aliás, engraçadíssima reviravolta. E a última frase do Matt, em que ele disse que a intenção deles não era fazer comédia, parece até que foi uma indireta. Aliás, Matthew Perry excelente.

    E, Lucas, as duas séries são completamente diferentes, e gosto das duas. Assista sem preconceito.

  4. Ricardo - 18/08/2007

    Excelente review.

  5. Thomás - 18/08/2007

    Exato, as séries são completamente diferentes, Lucas, assista as duas enquanto há tempo!

    A grande diferença é que a televisão era uma via de mão única, ou seja, você assitia, e pronto. Sentindo-se ofendido ou não, o máximo que podia fazer era organizar um protesto com o pessoal do bairro, ou sei lá. E isso mudou. É que nem aquela lei da física, “pra toda ação tem uma reação”. Ou seja, uma idéia vinda da cabeça de uma pessoa – ou mesmo de um grupo de pessoas, tendo uma ou duas pessoas, apenas, a palavra final – não vai, nunca, agradar a todos, sempre vai ter um blog, uma comunidade no Orkut, ou um vídeo no Youtube cheios de pessoas atacando (e outras defendendo) a idéia que foi ao ar.

    Agora quem censura é o público, com manifestações e boicotes, e não com repressão.

  6. Thomás - 18/08/2007

    Ah, e ótimo review, Laura, tão bom quanto os do Thiago…

  7. Thiago Sampaio - 18/08/2007

    Lucas, devia ter assistido desde o começo. Fez besteira =p E legal, Laura =) Muito bem escrita a review. Vou poder acompanhar mais uma série aqui no TS

  8. Lucas "Gandalf" Leal - 18/08/2007

    é gente não é questão de besteira, aqui aonde eu faço facul eu não tenho cabo, então dei prioridade a outras coisas…talvez até acabe puxando, mas é que quando ficou com essa coisa de ‘cancelada’ falei ‘bom posso ver a qualquer tempo’ já as outras tem uma segunda temporada por vir então dei prioridade a essas…
    mas vou ver se faço download ou vejo nas minhas férias se reprisar!

  9. Rafaelly - 19/08/2007

    Gente…Matt é tão tenso q me deixa nervosa às vezes…hehehe
    Ainda bem q ele tem o Danny pra falar “don’t worry about it”, pq senão já tava doidinho ou tido um ataque cardíaco.
    Matthew Perry tá batendo um bolão!!!Pena q acho q o Bradley tá meio apagado na série…E eu adoro tanto o Bradley…
    Ou será impressão minha?

  10. Paulo Antunes - 19/08/2007

    Texto brilhante, parabéns Laura!

    Agora o comentário sexista: Caramba, como a Christine Lahti está maravilhosa. Ela é como vinho, mais velha, mais encorpada…

  11. Thais Afonso - 19/08/2007

    Ótimo texto Laura. Esse episódio foi muito bom, só que eu achei o seguinte bem melhor.

  12. Carina Medeiros - 20/08/2007

    Parabéns Laura, ótima rewiew (tão boa quanto as do Anderson) para uma ótima e injustiçada série!

  13. Laura Gomes - 21/08/2007

    Obrigado a todos. Thaís, vc tem toda razão. O episódio seguinte é realmente sublime. Perfeito.

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