Review: Law & Order: Special Victims Unit – Users


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Law & Order: Special Victims Unit - Users

Série: Law & Order: Special Victims Unit
Episódio: Users
Temporada: 11ª
Número do Episódio: 231 (11×07)
Data de Exibição nos EUA: 4/11/2009
Data de Exibição no Brasil: 15/12/2009
Emissora no Brasil: Universal

Não sou um grande fã do fenômeno da auto-ajuda. Acredito que ela é uma maneira tola de se postergar jargões óbvios através de metáforas e analogias pseudo-reveladoras. Pior do que isso, ainda vem acompanhada de modismos e artimanhas mercadológicas que deixam as massas em frenesi e a postos para mudanças que, quando atingidas, são tão frágeis a ponto de despencar a partir do momento em que o livro ou o vídeo que as originou voltam para a prateleira.

Ao invés de transformar a forma com a qual o ser humano enxerga o mundo ou a si mesmo, a auto-ajuda de vitrine opta por um ilusório recurso atingido em curto prazo: a mera reprogramação mecânica do cérebro diante de um número ridiculamente restrito de atividades. Num mundo onde reina o incessante acontecimento de eventos aleatórios que esbarram uns nos outros com uma variável imprevisível de resultados, isso não tem serventia. Para efetivar uma mudança útil no ser humano, deve-se trabalhar sua essência ao invés de se restringir a quaisquer limitações rasas de sua personalidade. Obviamente, tamanho poder e responsabilidade estão nas mãos de poucos, e charlatões e aproveitadores nesse cenário são como um vírus que contamina com facilidade uma legião de seres sem a imunidade proveniente de um olhar questionador e, por que não, cínico para com este mundo e suas próprias vidas.

Em Users, os detetives se deparam com mais um enganador que conduz um ambiente movido a algumas coisas bem distantes da iluminação e do renascimento espiritual: lábia, psicologia barata, lavagem de dinheiro, propaganda e aliciamento de menores. Mais um dia de trabalho na Unidade de Vítimas Especiais, certo?

Desde que comecei a escrever aqui no TeleSéries muita coisa aconteceu. Nesses últimos anos, ao abraçar completamente a vida adulta e dar adeus ao ambiente escolar/acadêmico, juntamente às confusões, dramas e banalidades juvenis, tudo mudou (é verdade que as confusões, dramas e banalidades da vida adulta estão por vir). A verdade é que embarquei numa jornada irreversível por entre livros, músicas, filmes e artes em geral que não me permite mais consumir algo de forma passiva. Não, eu não perdi meu senso de humor nem deixei de assistir coisas por diversão e muito menos deixei de revisitar aqueles discos vergonhosos, que trazem lembranças memoráveis de minha infância e adolescência. O que quero deixar claro aqui é que passamos a enxergar as coisas com mais objetividade e nos poupamos de adjetivos apaixonados quando eles não são cabíveis.

Nesse sentido, meu problema com SVU já foi explicitado em várias ocasiões: a santidade imaculada das personagens, a omissão do tormento mental que esse ambiente de trabalho traria, e a total ausência do instinto de auto-preservação do ser humano. Não estou reprovando o bom caráter dos membros da Unidade nem afirmando que eles devem ser autodestrutivos ou egoístas para que apresentem complexidade, mas é visível que os roteiros só fazem uso desses conflitos quando lhes são convenientes. De resto, isso é sublimado na maior parte da temporada.

Na verdade, o que torna a série ao mesmo tempo tão atrativa é parte daquilo que a condena. O fato de que todos sempre esbanjam beleza impecável, solidariedade e simpatia vazando pelos poros num ambiente sórdido e exaustivo, além de pôr a vida de qualquer criatura à frente das suas e de suas carreiras, provoca essa sensação paradoxal que torna a série e seus habitantes irreais, mas nos impede de recriminá-los, pois o conceito abstrato do bem maior e o auto-sacrifício, incrustados em nosso subconsciente pela moral e pelos dogmas religiosos, aqui estão em sua melhor forma.

Pegue o Dr. Huang nesse episódio, por exemplo, e assuma o lugar dele. Você ficou compadecido pelo adolescente viciado em heroína e quer fazer o possível para ajudá-lo. De acordo com os princípios morais, isso é a coisa certa a se fazer. Mas nada é preto e branco, e outros aspectos precisam ser levados em consideração. Você é um profissional respeitado, com uma grande carreira construída e uma ética profissional a zelar. No entanto, você manda tudo isso para o inferno, interna um menor ilegalmente numa clínica clandestina e viola leis federais ao trabalhar com medicamentos proibidos em território nacional. Você jogaria seu emprego na lata do lixo e teria sua licença caçada para que a testemunha pudesse ir ao tribunal no cronograma necessário? É claro que o roteiro optou por recompensar o heroísmo desenfreado do doutor apenas dando-lhe uma suspensão, da mesma forma que Olivia não foi transferida da Unidade após sucumbir a um severo stress pós-traumático na temporada passada. Afinal, essa coerência precisa ser quebrada para que os protagonistas continuem na série.

Law & Order: Special Victims Unit - Users

Tudo isso é culpa do paradoxo a que estamos sujeitos enquanto estamos sentados no sofá: o Huang tomou uma decisão ridícula, mas nós o odiaríamos se ele tivesse ignorado o garoto, não é verdade? Do ponto de vista crítico, o episódio tem um grande conflito com o bom senso. Do ponto de vista emocional, ele nos dá aquilo que esperamos dos destemidos justiceiros.

No final das contas, voltamos à velha máxima de que isso é entretenimento e que ninguém liga a TV para se sentir mal. Assim, que mal há em se cultuar heróis num mundo tão árduo como esse?

PS: Como de costume, SVU entra em hiato nesta época do ano e retorna com episódios inéditos em meados de janeiro.

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  1. Thais Afonso - 20/12/2009

    Na verdade, eu me senti um pouco alienada do episódio não só por causa das decisões do Huang, mas por causa da maneira como a investigação se sucedeu. Eles decidiram desde o começo que o cara era culpado, e ah que surpresa, ele era mesmo. Então meu problema não foi a maneira forçada como o Huang agiu, mas que ele começou a agir assim antes de ter qualquer prova de que o tal psicólogo era de fato culpado, e isso me fez sentir como se o cara tivesse que ser culpado no final para o Huang ter sua redenção. Aquela sensação ruim de roteiro escrito de trás pra frente que vai forçando as situações a se encaixarem nos seus lugares para chegar onde eles querem. É claro que todo roteiro é escrito assim, mas a intenção é nos fazer sentir como se a trama estivesse fluindo naturalmente e aqui me pareceu que estavam tentando nos manipular.

  2. Fernando dos Santos - 20/12/2009

    Parabéns pelo review, o texto está verdadeiramente inspirado.Concordo com tudo nele, desde a análise da ineficácia da auto-ajuda até o comentário sobre os méritos e defeitos de SVU.Defeitos que de fato nos acostumamos a perdoar em nome do entretenimento e também devido ao fato que quando os realizadores acertam o fazem de maneira brilhante, fazendo de SVU uma série policial muito acima da média.

    Users foi exemplar neste sentido, se analisarmos seus erros e acertos.Os detetives logo no começo do episódio prenderam o pai da garota morta mas não revistaram seus bolsos, onde estava a foto do charlatão seduzindo a menor.Foi o próprio suspeito que tirou o panfleto do bolso e mostrou aos policiais posteriormente.
    A punição modesta que o Huang recebeu depois de quebrar tantas leis também ficou meio difícil de acreditar.Ele deve ter amigos em altos cargos, eu suponho.

    No entanto, gostei tanto do episódio de maneira geral que até consigo perdoar estas falhas.O roteiro mais uma vez deu chance para toda a equipe e de modo geral eu achei a trama bem conduzida, embora a reação muito emocional tenha me parecido um pouco forçada pois ele sempre pareceu um sujeito mais racional.Faria mais sentido ver o Eliott agindo daquela forma pelo fato dele ser mais temperamental e ter uma filha tão problemática quanto aqueles jovens usados pelo guru de auto-ajuda.Houve de fato excesso de Stabler no começo da temporada, mas neste episódio até faria sentido ele aparecer um pouco mais.

  3. Fernando dos Santos - 20/12/2009

    Correção:”…embora a reação muito emocional DO HUANG tenha me parecido um pouco forçada pois ele sempre pareceu um sujeito mais racional.Faria mais sentido ver o Eliott agindo daquela forma…”

  4. Ju - 20/12/2009

    Talvez esses “heroísmos desenfreados” dos personagens de L& O SVU sejam o que tornam a série tão boa, já que na vida real pessoas assim não existem. Por mim não há mal nenhum em eles serem assim.

  5. Taciana - 20/12/2009

    Eu gosto do heroísmo dos personagens. A série já é bem realista na sua temática e se os personagens não fossem tão bons, confesso que eu não aguentaria a barra, já que alguns episódios me deixam realmente apavorada, acho bom ter esse escape.

    E não acho que eles sejam tão perfeitos assim, afinal, quantas vezes Elliot e Fin não foram brutais com os suspeitos? E a decisão de Olivia de encobrir o irmão não teve nada de heróica.

    Estou gostando muito dessa temporada, principalmente pelo “retorno” do Huang.

  6. Ana Maria - 20/12/2009

    Talvez porque o episódio passado tenha sido frenético, eletrizante,este último me pareceu um tanto morno. Foi,pra mim, o mais fraco da temporada, embora eu ainda o considere um bom episódio.
    Na realidade tivemos no desenrolar da trama dois crimes;o de estupro e assassinato e um outro relacionado a crise da adolescência e sua exploração por parte de clínicas comandadas por charlatões, associada ao uso de drogas.Esse último,tendo em vista sua complexidade e implicações de ordem legal e jurídica, daria oportunidade para se discutir e debater de forma mais contundente questões tão relevantes.
    Mas a trama foi resolvida de forma tão rápida e simplista, e aqui eu concordo com a Thais Afonso,que até o criminoso foi condenado quase “a priori”, sem uma investigação mais profunda.
    O comportamento do Huang foi, digamos coerente com o que se espera dos nossos “heróis”.Mas, se o procedimento médico tivesse dado errado, como muitas vezes acontece na vida real,abriria-se um leque de opções para se discutir e abordar.
    Faltaram também os brilhantes debates que envolvem os advogados, já que havia tantas questões envolvidas e não devidamente discutidas. Neste tocante, somente o uso de uma substância(hidrocloreto de ibogaína)considerada ilegal nos EUA, mas que pode,com uma única dose bem aplicada, livrar uma pessoa da dependências às drogas,mas que, por interesse escusos não é legalizada, seria razão para um amplo debate.A frase dita pelo Elliot,define de maneira clara e precisa a situação :isso é uma palhaçada”.
    E é porque lá é primeiro mundo.
    Quem sabe, teremos posteriormente um episódio abordando de forma mais profunda questões tão complexas.

    Já que teremos agora um hiato nos reviews e comentários quero, na oportunidade, desejar a todos os que fazem o TELESERIES um Natal onde o espírito cristão prevaleça e um Ano Novo pleno de realizações, saúde e muita paz de espírito.Esses meus votos se estendem a todos que aqui comparecem rotineiramente, com seus comentários. Não vou citar nomes, pois posso omitir algum e seria indelicado de minha parte.

    Quero porém mandar um abraço todo especial ao Ângelo Romão, que eu não conheço pessoalmente mas que já mora no meu coração.Sempre que posso estou elogiando o texto do Ângelo,ele escreve muito bem,e, para mim, tem sido sempre uma satisfação enorme poder expressar o meu pensamento e trocar idéias com ele e os demais aficionados da série.Quero deixar bem claro também que, embora admirando sempre o seu trabalho, nem sempre concordo com suas opiniões.Mas é isso mesmo que torna o debate atraente ,que enriquece a nossa visão e aumenta o nosso aprendizado.Esse seu ultimo review foi muito interessante e esclarecedor. Ele evidencia um jovem maduro, apaixonado pelos problemas existenciais,profundo nas ideias e com apurado senso crítico.Mas que é também educado e sensível, para entender que as pessoas são indivíduos e tem opiniões diferentes sobre o mesmo fato.Admiro seu talento para analisar e descrever os tramas e situações com tanta propriedade e sabedoria.Já observei Ângelo, que seus reviews são tão bons que invariavemente atraem sempre um bom número de comentaristas.Não tenho certeza mas parece-me que o review sobre “Swing”,o 3º episódio da 10ª temporada,contou com mais de 60 comentários. Um verdadeiro recorde.
    Parabéns Ângelo, sucesso nos seus empreendimentos,em todos os aspectos de sua vida , e que nos possamos estar juntos em 2010,debatendo, discutindo,e, sempre que possível elogiando a série que, mesmo com os senões, as falhas, os furos,roteiros complicados, nós aprendemos a amar.
    Finalmente, vou dizer aqui uma frase que ouvi assistindo o episódio “Estranho” da décima temporada , proferida pela minha detetive
    predileta, uma tal de Olívia Benson, em conversa com uma adolescente que estivera em cárcere privado durante 6 anos.Essa frase é simplória até, mas tem norteado a minha vida e me ajudado bastante: ” A VIDA NUNCA É PERFEITA”.Entenda isso e se terá dado um passo importante em busca da felicidade.

  7. Renata S. Braga - 21/12/2009

    Concordo com a Ana Maria, esse episódio foi o mais fraco até agora, embora eu tenha gostado do episódio, principalmente pela maior participação do dr. Huang que vinha meio que sumido da série. Também quero desejar a todos do Telesérie um feliz Natal e um feliz Ano Novo, especialmente para você Ana Maria que tem escrito cada vez melhor, que com muita sabedoria e inteligência vêm contribuindo com seus comentários para este review, tornando-o muito mais agradável e interessante de se acompanhar.

  8. Ana Maria - 21/12/2009

    Alô Renata S. Braga,

    Mais uma vez obrigada pelo elogio.Quero também expressar a admiração que sinto pela minha companheira de comentários.Eu sou muito prolixa, escrevo demais e voce, rápida e objetiva escreve com muita segurança e esperteza. Eu sempre aproveito, tiro alguma conclusão interessante de suas observações.Inteligente e sábia não sou eu Renata, somos nós.E, tenho quase certeza, essa troca de informações semanais tem enriquecido o nosso dia a dia, porque também no convívio virtual se aprende entre outras coisas a respeitar as opiniões contrárias e se aproveita muito das impressões de cada um.Todos, de alguma forma ou outra,sempre deixam alguma mensagem que coloboram para o nosso enriquecimento pessoal.
    Para mim tem sido prazeroso esse encontro e voce em particular, com sua inteligência e perspicácia, tem colaborado de forma decisiva para torna-lo ainda melhor.
    Um abraço, um Natal maravilhoso, um Ano Novo com muita paz e amor e um feliz reencontro em 2010.

  9. Taciana - 23/12/2009

    Feliz Natal para todos nós e que 2010 seja maravilhoso!

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