The Shield: filme policial na tela de TV

Data/Hora 24/02/2009, 12:00. Autor
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Elenco de The Shield

Os anos 70 tiveram fundamental importância nos filmes policiais, revelando as entranhas de uma instituição corrupta e falida; não existia quase nenhum compromisso com a ordem social. A única coisa em comum era a forma com que praticamente toda a força policial se mobilizava para encontrar maneiras de burlar o sistema em seu próprio benefício.

O cinema americano ajudou a imprimir uma estética mais realista a esse gênero, ao priorizar o roteiro – em detrimento das cenas de ação. O foco era na trama, no desenvolvimento dos personagens. Foi uma década em que grandes diretores surgiram, como Coppola, Scorsese, Spielberg e Brian de Palma, entre outros. A ingenuidade e, como conseqüência, a infalibilidade da polícia desapareceu.

É claro que há muitos anos a eficiência da polícia vinha sendo questionada; os filmes noir, com sua dualidade mocinho/vilão, femme fatale/traidora, já nos mostravam que a natureza humana é muito mais complexa do que simplesmente um colocar de algemas em um suposto bandido. Quem está errado nessa história? Quem é o verdadeiro culpado?

The Shield é um representante desse paradoxo. Filho legítimo dessa linhagem de filmes policiais. Ao mesmo tempo em que uma cidade é engolida pela criminalidade, não se pode confiar naqueles profissionais que – supostamente – deveriam combatê-la. O crime, dessa forma, não é a razão pela qual a polícia existe. Ele é um sintoma da sua podridão. Quanto mais corrupta a polícia, maior a criminalidade; quanto mais bandidos são presos, em uma virtual demonstração de eficiência, maior é a teia em que os supostos mocinhos ficam presos. É um círculo vicioso.

Por que então torcemos tanto pelo personagem de Vic Mackey (Michael Chiklis), o arquiteto dessa teia? O argumento de que é apenas uma série é reducionista; acredito que exista aí uma grande influência da sociedade em que vivemos. Não importam os meios, desde que os fins sejam atingidos. É a maneira – na forma de balas e crânios amassados – do “rouba, mas faz”. E essa dualidade atinge seu ápice quando aqueles que efetivamente querem fazer o seu trabalho direito são mostrados como personagens perturbados e/ou sem carisma. Haja vista o problema de auto-aceitação de Julien (Michael Jace), da crescente loucura de Kavanaugh (Forest Whitaker) e da nerdice insossa de Dutch (Jay Karnes).

O bem, por sua vez, não consegue resistir e é sistematicamente – e de forma metafórica – derrotado: a incorruptível Claudette (CCH Pounder) está perdendo a luta contra sua doença; Curtis “Lemonhead”, (Kenneth Johnson) o mais íntegro do Strike Team foi assassinado com crueldade; a ex-capitã Monica Rowland (Glenn Close) perdeu a batalha contra o sistema. Todos, de alguma forma, conectados ao triste legado de Vic Mackey.

Nessa última temporada, veremos a tentativa de sobrevivência do tubarão, Vic Mackey. Prestes a ser expulso da polícia, joga suas últimas cartas. Ao mesmo tempo tem de lidar, junto com o FBI, com o megatraficante mexicano que abastece a candidatura de David Aceveda (Benito Martinez) à prefeitura. E a maior das ameaças: a convivência com Shane (Walt Goggins), que pode revelar toda a “obra” do Strike Team, colocando-o na prisão.

The Shield foi uma série que captou com perfeição todas as características e nuances de um excelente filme policial – prestando uma justa homenagem àqueles diretores e roteiristas que subverteram a lógica: cenas de ação tensas, perfeitamente inseridas no contexto dos episódios; atuações magistrais, longe das caricaturas de personagens inconvincentes; subtramas lógicas e consistentes; pessoas falíveis. De deixar John Frankenheimer (Operação França 1 e 2) e Sam Peckinpah (Os Implacáveis) orgulhosos. Esses diretores, ao lado dos citados no início deste texto, colocaram o gênero policial longe da obviedade. The Shield conseguiu a mesma coisa.

Vic Mackey, apesar de tudo, muito obrigado.

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  1. edson - 24/02/2009

    O melhor serie policial que eu assisti… Espero que lancem DVD’s dublados (para q mais pessoas no brasil a assistam)…

  2. Celso - 24/02/2009

    Esse é o mundo real, a lei do cão, o mais forte sobrevive.

    Retrata fielmente o ser humano. Somos todos pilares da moralidade até termos a chance de fazer algo para o nosso bem próprio (vide políticos, eles podem ser honestos até chegarem ao poder, mas lá sem exceção são corrompidos).

    O final da série foi excepicional e eu vou ficar com o último episódio da série gravado para ver de novo daqui a um tempo.

    Quem ainda não a última temporada vale a pena.

  3. Izadora - 24/02/2009

    The shield foi a melhor série policial dos últimos tempos! Estou acompanhando novamente a 1ª temporada no People and ARTS e adoro o Stricke Team. Vic rules forever!

  4. Fernando dos Santos - 24/02/2009

    Dentre os cineastas que mexeram com o genêro faltou citar o grande Sidney Lumet que abordou a corrupção policial com maestria em Serpico e voltou ao tema em O Principe da Cidade,Q&A e Sombras do Mal.
    Seria interessante mencionar também as séries televisivas que contribuiram para a evolução do gênero tornando-o cada vez mais realista como por exemplo Kojak,Hill Street Blues,Wiseguy,Miami Vice,NYPD e Homicide.

    Dentre os personagens de The Shield sou fã de carteirinha do Dutch.Acho que ele tem lugar garantido entre os maiores losers de todos os tempos no mundo das séries.Lamento que o fim da série tenha chegado, mas é melhor que ele ocorra enquanto ela ainda está por cima.

  5. Gilberto Guerra - 25/02/2009

    Excelente série! Não apenas como policial mas no geral também. Estou ancioso pra saber como termina esta saga.

  6. Patricia E. - 25/02/2009

    Não tenho nem muito o que acrescentar, o Osório disse tudo.

    Quem ainda não viu, aproveite as reprises do P&A ou vá atrás dos episódios (alugue, baixe, compre, o que seja, mas não deixe de conferir).

    Foi uma das poucas séries que conseguiu se manter coesa (tanto na trama como nos personagens) do começo ao fim.

    Bem lembrado, Fernando (sem séries como NYPD Blue — que chocou o público na época com sua linguagem mais crua pros padrões da TV aberta e pelas cenas de nudez — o público não estaria preparado pra uma série como The Shield). E além dessas também vale citar The Wire.

  7. Osório Coelho - 25/02/2009

    É verdade, “Serpico” é um dos filmes que mostram a corrupção por dentro do sistema. Engraçado que eu pensei nesse filme de cara quando fui escrever, mas, ao final, me esqueci. Bem lembrado, Fernando.

    The Wire é outra série que merece um texto beeeem longo. Sou fã também, mas, apesar de mostrar as entranhas do departamento de polícia de Baltimore, tem uma outra abordagem.

  8. Edson R. Okudi - 25/02/2009

    Texto brilhante. Não só pelo conteúdo analítico, como também por contextualizar a série “The Shield” na história da Tv e do Cinema americanos. Pra quem curte filmes com corrupção policial sistêmica, sugiro que assistam “O Gângster” e “Los Angeles, Cidade Proibida”. Parece que também vai entrar em cartaz (ou já entrou) “Força Policial” (Pride&Glory), filme que pretendo assistir.

  9. Jorge P. - 26/02/2009

    Não há muito a acrescentar no excelente texto do Osório. Exceto o que já venho dizendo aqui há tempos: não houve um único episódio sequer de enrolação, foram 7 temporadas na pauleira. Melhor série policial para mim.

  10. Flavio André - 26/02/2009

    Ótimo texto.

  11. Silvia_05 - 26/02/2009

    Uma bela surpresa! Tô na 4a. temporada de The Shield, e quando termina me dá um frio na espinha por saber que tô indo pros finalmente.

    Apesar da série cansar a gente um pouco (bem pouquinho) com as tretas entre as gangues, o roteiro é impecável, as histórias paralelas são bem amarrradas,e “todo mundo” está ótimo.

    Vic Mackey é a prova viva daquele ditado que diz que “o homem é fruto do meio”. E é impressionante que a falta de caráter dele é na verdade a única maneira de sobreviver naquele mundinho.

    E justiça seja feita, mas o ator Michael Chiklis é perfeito. Chorei todas as vêzes que Dutch quebrou a cara. Me identifico profundamente com a idealista Claudette. Sinto profunda pena pelo sofrimento de Julien. Me irrito com o porra-louca do Shane. E tiro o chapéu prá Glenn Close, que neste momento posso comparar com Damages. Ela realmente encarna os personagens que faz.

    Nem sei o que vem pela frente. Só sei que a série vai ficar no meu coração e na minha mente, por apresentar altíssima qualidade na evolução das histórias e de seus personagens. Todos tão reais.

  12. Mauro Irapuan - 20/06/2009

    ESSA É A SÉRIE!!! EXCELENTE EM TODOS OS ASPECTOS, TANTO DA DIREÇÃO QUANTO DO ELENCO.

  13. EDSO L.KLINGENFUS - 08/10/2009

    EXELENTE. NOTA 10. SEM FRESCURAS. RETRATA A REALIDADE. ( HÁ MEU VER.)

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